Pioneiros
– A História de Todos Nós
A festa em comemoração aos
28 anos de emancipação de Alvorada D’Oeste será realizada entre os dias 29 de
maio e 1º de junho, durante a 22ª Expoalvo coordenada pela AAPEAL em parceria com
a prefeitura de Alvorada e apoio do governo do estado de Rondônia. A entrada
será franqueada todas as noites.
A cidade município Alvorada
D’Oeste nasceu, graças à admiração que o Piá (menino), João Távora Filho tinha
pelo então presidente da República Juscelino Kubistchek, desde quando este anunciou
que iria construir Brasília no meio do cerrado mato-grossense. “Um
dia vou ter um sítio que futuramente vai ser uma cidade e vou colocar o nome de
Alvorada”. O tempo passou o menino cresceu, casou e juntamente com a
mulher Zenaide Távora e os filhos Nilton Cezar, Valdir, Maria Regina, Rosenaide
e Nádia Paula no dia 13 de agosto de 1974 desembarcou em Presidente Médici
então distrito de JI Paraná e abriu uma bicicletaria. “Certo dia chegou o Sebastião
Preto e perguntou: Você quer comprar uma marcação? e eu: O que é marcação?
Marcação é terra!”. Daí pra frente o sonho do menino, começou a virar
realidade.
No dia 3 de abril de 1980 o
administrador de Médici Antônio Geraldo da Silva – Toninho Geraldo reuniu com
os pioneiros e aprovou o sistema de distribuição dos lotes urbanos e a abertura
das primeiras ruas. No dia 22, o governador Jorge Teixeira e comitiva visita o
povoado. O nome Alvorada foi idealizado por João Távora, confirmado por Toninho
Geraldo e complementado com D’Oeste por Assis Canuto.
O município foi criado
através da Lei estadual nº 103, assinada pelo então governador do estado de
Rondônia Ângelo Angelim em 20 de maio de 1986.
O governo de Rondônia
registra a história de Alvorada D’Oeste, ouvindo para o Projeto “Pioneiros - A História
de Todos Nós” João Távora Filho, Zenaide Távora, Joaquim Barbeiro, Joviano
e Maria Magdalena.
ENTREVISTAS
João
Távora Filho
Aos 11 anos de idade, ele
sonhou que um dia teria um sítio que se transformaria em cidade, com o nome de
Alvora. João mantém por conta própria o Museu onde entre outras histórias,
encontramos ferramentas que faziam parte do Cacaio dos primeiros posseiros.
Apesar da sua dedicação à história de Alvorada, jamais foi homenageado pelo
poder público da cidade que ajudou a criar. Acompanhe a fascinante história do
seu João Távora Filho o idealizador de Alvorada D’Oeste.
Decom/Sms – Vamos a uma
breve biografia?
João Távora – Meu nome é
João Távora Filho, filiação, João Silveira Távora e Maria Abílio Cavalcante,
paulista de Adamantina nascido no dia 15 de setembro de 1944.
Decom/Sms – É verdade que
quando o senhor tinha apenas 11 anos de idade, sonhou em ter um sítio que
depois seria transformado em cidade, com o nome de Alvorada?
João Távora – Aconteceu, que
quando Juscelino Kubistchek decidiu criar Brasília, um de seus seguranças
chegou e disse: “Tão dizendo que o senhor é louco”, no que ele respondeu: “Se
eu não fosse louco não chegaria à presidência”. Então copiei dele essa atitude,
de construir uma cidade no meio do nada, no nosso caso, no meio da floresta,
essa decisão, tomei quando tinha apenas 11 anos de idade. O sonho também era
colocar na cidade o nome Alvorada em homenagem ao palácio de Brasília.
Decom/Sms – Em que ano o
senhor veio pra Rondônia e de onde?
João Távora - Vim de Cidade
Gaúcha norte do Paraná perto de Umuarama, Cianorte e Paranavaí. Cheguei a
Rondônia especificamente no distrito de Presidente Médice no dia 13 de agosto
1974.
Decom/Sms – E Alvorada?
João Távora – Ao chegar a
Médice abri uma bicicletaria e também trabalhava como pintor. Certo dia chegou
o Sebastião Alves Néri conhecido como Sebastião Preto e perguntou: “Você quer
comprar uma marcação?” e eu: O que é marcação? “Marcação é terra!”. Fica a
quantos quilômetros? “É bem aí” (fazendo o gesto com a boca) “52 km e tem que
ir a pé com o cacaio nas costas” - E o que é cacaio? Fui indagando sobre tudo,
pois de mato não conhecia nada. Para encurtar a conversa, viemos pra cá
(Alvorada), marquei esse lote onde estamos hoje e faz parte da cidade e fomos
roçando sem experiência nenhuma, éramos o único “pó de arroz” da turma. Em 1979
já com as plantações, o rancho feito, trouxe a família para morar no sítio
Alvorada.
Decom/Sms – Para chegar até
a primeira turma de alunos, muito água passou por debaixo da ponte. Certo?
João Távora – Farei um breve
relato sobre essa história. Na data marcada, saímos de Médici rumo ao km 52:
Satilião, Furtuoso, Nelson Preto, Antônio Santos, Zé Carlos Caetano, Zezinho,
Chaguinha, Moises Amaral, Epaminondas, Zé Heleno, Pedrinho, Valdo, Arinaldo, Zé
Balbino, Joaquim Barbeiro, Satilinho, Tião Preto, João Távora, Joventino,
Dalmo, Sebastião, Aristides, Cachimbo de Ouro, Jorge Mariano e Zé Moraes. Quem
tinha bicicleta pedalava pela picada aberta pelo INCRA até a 4ª Linha. Já com o
cacaio nas costas e guiados pela topografia, percorremos até a 6ª Linha e
pernoitamos no “Rancho das Pimentas”. Na madrugada do dia seguinte, após
delicioso “Quebra Torto” (café com comida), continuamos e após descansarmos no
topo da serra da 6ª Linha, caminhamos até o barraco próximo ao Rio Ricardo
Franco (Muqui), jantamos e pernoitamos sobre folhas de coqueiros. Continuamos o
trajeto até chegarmos ao barraco do senhor Satilião no km 50. Foram distribuídos
os mutirões para cada Marcação e assim a gente ficava. Quando acabava a
mercadoria voltávamos para Médice, rever a família, trabalhar para arrecadar
mais dinheiro e comprar mercadoria para voltar para a Marcação.
Decom/Sms – O tempo todo
fazendo esse percurso a pé?
João Távora – Nessas idas e
vindas descobri que o Rio Ricardo Franco era navegável então, convidei o seu
Wilson Larson (falecido recentemente) que tinha uma Marcação rio abaixo para me
ajudar na exploração do Rio. Na época das chuvas trazíamos mercadorias de barco
do Rio Machado até o Rio Ricardo Franco de onde era levada no lombo de animais
(burros) até o barraco do senhor Furtuoso. Na estiagem o rio era inavegável.
Decom/Sms – E o sítio
Alvorada quando surgiu?
João Távora – Quando resolvi
abrir realmente o sítio Alvorada o meu sonho, começamos a roçar e o povo
chegava: João Távora você tem mercadoria pra vender? Não, tenho pra trocar em
dia de serviço. Quando o roçado chegou a 170 metros mais ou menos, admirei uma
árvore com o tronco muito grosso e perguntei que árvore é essa? Isso é um
Angelim! E eu disse, aqui temos a primeira serraria de Alvorada e os
companheiros: Serraria de Alvorada, só porque o sítio dele é Alvorada vai ter
uma serraria? Quase no final do lote, uns 540 metros, me deparei com outra
árvore grossa e perguntei pro seu Epaminondas (falecido), que árvore é essa? É
um Mogno! E disse, isso aqui vai ser para construir a igreja católica... Igreja
católica no meio da mata, esse baixinho tá pirando, comentavam os cacaeiros.
Nesse interim, consegui duas tábuas de madeira, coloquei justamente onde hoje é
o semáforo no centro da cidade, e escrevi: “Breve neste local, Sítio Alvorada”
pintei também o símbolo de Brasília.
Decom/Sms – E a cidade
propriamente dita como começou?
João Távora – Ganhei a
confiança dos companheiros e vendo a dificuldade de todos, no dia 5 de agosto
de 1979, os convidei para uma reunião no sítio Alvorada isso consta em Ata, e
durante a reunião falei: Gente, to vendo a dificuldade que passamos em ter que
ir à Médici fazer compras, vamos abrir uma clareira nos quatro lotes iniciais
da Linha 52, para iludir comerciantes a virem pra cá e acabar essa nossa
dificuldade. Nomeamos do senhor Arinaldo Alexandre dos Santos como chefe do
desmatamento, fui escalado pra pedir esmola, para comprar mantimento e gasolina,
que aqui não tinha, para poder abrir as quatro quadras. No terceiro dia do
desmatamento seu Arinaldo desistiu e o Santilinho assumiu o comando e começou a
distribuição de terra urbana. Cada requerente pagava a importância de 200
Cruzeiros por cada documento.
Decom/Sms – Clareira aberta
e os lotes negociados e depois?
João Távora – De Ji-Paraná,
não lembro se ainda era Vila Rondônia, começaram a vir em botes, jerico com
carretinha atrelada, Médicos para fazer consultas e distribuir remédios, assim
como comerciantes começaram a se instalar. Quando fomos iniciar a cidade,
convidamos o Padre Romano que veio de Ji Paraná a pé até a linha 52 e rezou no
dia 21 de janeiro de 1980 a 1ª Missa Campal e ainda fez o casamento de Arnaldo
e Maria Vilma e mais quatro batizados, além de colocar a pedra fundamental da
futura Matriz de Alvorada.
Decom/Sms – Como o INCRA
entra na história de Alvorada?
João Távora – Quando fui pra
Ji Paraná juntamente com o Toninho Geraldo que era o administrador de Médice,
visitar o prefeito Assis Canuto. Pedi pra ele (Canuto), fazer a vistoria do
INCRA em Alvorada e ele ligou pro Doutor Josemar e disseram que haviam feito
marcação em Alvorada e eu disse que não, - Porque o senhor diz que não houve a
marcação? Porque moro lá!. Então fomos conversar com o Josemar eu, Toninho
Geraldo, seu Jovelino e o seu Otávio Dourado. Quem é João Távora perguntou o
Dr. Josemar, sou eu! O senhor disse pro Dr. Canuto que não fizemos vistoria,
você tem certeza? Tenho! Aí vieram os técnicos e após nossa afirmação, foram
escaladas duas pessoas para fazer o trabalho. Isso foi em 1.977.
Decom/Sms – Qual o seu
relacionamento com o governador Jorge Teixeira?
João Távora – O gabinete do
Teixeirão era dentro do helicóptero, e o chão que ele gostava de pisar era em
cima de tambor de combustível para ser ouvido pelo povo. Ele conhecia todos de
Alvorada pelo nome. No dia 22 de abril, ele desceu do helicóptero numa clareira
que a gente fez. Fomos lá e me identifiquei e ele então me disse:
“Deus guia os pioneiros cacaeiros de caráter, na frente, depois de tudo pronto,
o diabo tange os ratos atrás”.
Decom/Sms – Quem foi o
primeiro prefeito eleito de Alvorada?
João Távora – Arnaldo Xavier
de Oliveira que teve como vice o Wanderlei Rocha Rodrigues para um mandato de
dois anos. Acontece que quando foram criar Alvorada não aceitamos que fosse
distrito, então criaram como Núcleo de Apoio Rural – NUAR.
Decom/Sms – E a emancipação
política aconteceu quando?
João Távora – O Projeto de
Lei de emancipação do Município de Alvorada D’Oeste é de autoria do deputado
estadual Gersi Badocha. O município foi criado através da Lei estadual 103,
assinada pelo então governador Ângelo Angelim no dia 20 de maio de 1986.
Decom/Sms – Criado o município
o prefeito eleito e empossado assim como os vereadores! João Távora o
idealizador de tudo, foi contemplado pelo menos com uma placa de
reconhecimento?
João Távora – Quando o
Teixeirão disse que os ratos tomariam conta estava certo. No primeiro mandato veio
um pessoal do Sul e tomou conta da cidade por 26 anos, enterraram a cidade, não
deixaram Alvorada se desenvolver, só o bolso deles.
Decom/Sms – Vamos começar a
encerrar essa conversa. Estamos vendo que o senhor montou um Museu com a
história de Alvorada. Conte de onde surgiu essa ideia?
João Távora – Estava eu e
meu sogro conversando lá em Cidade Gaúcha (PR) já de saída para Rondônia,
quando chegou uma professora e disse, pro meu sogro, seu Antônio vim aqui pro
senhor contar a história de Cidade Gaúcha e ele respondeu, “sou vereador, não
sei contar a história de Gaúcha”. Foi então que vi que a história de uma cidade
era e é muito importante. Lembrando disse montei o Museu. Hoje muitos alunos
vem aqui fazer pesquisa, é um ponto turístico do município.
Decom/Sms – O senhor já foi
homenageado pelo poder público como Pioneiro de Alvorada e de Rondônia?
João Távora – Jamais! Tem
esse bairro onde moro, que o povo colocou o nome de “João Távora” já tentaram
trocar, mas como já existe CEP essas coisas todas, deixaram. Quanto ao Museu é mantido com recursos
oriundo do aluguel de alguns imóveis que tenho. Oito prefeitos de Alvorada e
nenhum nunca se preocupou e nem quer saber se tem um Museu na cidade, nem o
Secretário de Educação de Alvorada conhece o Museu.
Decom/Sms – Para encerrar. Gostaríamos
de em nome do governo do estado de Rondônia de parabeniza-lo por ter tido a
ideia de criar uma cidade no meio da floresta. O senhor é quem merece todos os
parabéns no dia do aniversário de 28 anos de emancipação de Alvorada D'Oeste!
Zenaide
de Souza Távora
A primeira escola de
Alvorada foi criada por ela que também foi sua primeira professora: “A escola era de pau a pique, o quadro negro
uma tábua e o giz era carvão”. Dona Zenaide se diz muito orgulhosa por ter
contribuído com o desenvolvimento de Alvorada D’Oeste.
Decom/Sms – Primeiramente
diga seu nome completo?
Zenaide – Antigamente era
Zenaide de Souza Távora, depois que me separei ficou Zenaide Rodrigues de
Souza, mas, põe Távora que todo mundo conhece.
Decom/Sms – Agora vamos a
sua história em Rondônia?
Zenaide - Vim para Rondônia
em 1974. Chegamos a Presidente Médici e o João montou uma bicicletaria e eu era
doméstica, como a carência de professores era muita, uma amiga me convidou para
dar aula, então fui assinar contrato como professora em Porto Velho. Devo
esclarecer que tinha apenas a 7ª série. Após seis meses, fui fazer um curso em
Ji Paraná ministrado pelo Irineu.
Decom/Sms – Quando seu marido
decidiu se embrenhar na mata com a finalidade de abrir um sítio, a senhora
concordou ou não?
Zenaide – Quando ele
resolveu abrir o sítio Alvorada, disse, vamos que te ajudo financeiramente. No
inicio ele ia apenas com os cacaeiros depois, já com o Sítio aberto, decidiu
pela nossa mudança de Médici para lá. A gente colocava as mercadorias no cacaio
de uma mulinha e seguia a pé ao lado. Muitas vezes a gente dormia na mata. Para
espantar as onças que geralmente rondavam nosso acampamento, fazia uma fogueira.
Quando chegava ao Rio Muqui (Ricardo Franco), soltava a mulinha e ela
atravessava, o problema era quando a bicha empacava no meio do rio, era
verdadeiro sufoco. Durante três anos a gente fez o percurso de Médici a
Alvorada a pé pelas “picadinhas”, depois foi que vieram as rabetas (voadeiras).
Decom/Sms – Quando vocês
passaram a morar no sítio Alvorada segundo consta, a senhora abriu uma escola.
Fale sobre a história dessa escola?
Zenaide – O sítio Alvorada
era na mata, então fomos abrir a escola lá no Km 47,5 no sítio do seu Antônio.
Reunimos os pais e eles construíram a escola de “pau a pique”, as carteiras
eram de madeira bruta e o quadro negro era uma tábua e o giz carvão. Depois
viemos para o centro do povoado que estava a cada dia crescendo mais. A primeira
escolinha foi onde hoje está a agencia dos Correios aí o Irineu falou, Zenaide
é preciso dar um nome pra essa escola, então sugeriu, vamos colocar o nome de
Escola Santa Ana. Essa escola existe até hoje funcionando em outro local, mas,
com o mesmo nome. Eu dava aula para alunos da 1ª até a 4ª série, tudo na mesma
sala. Foram três anos como a única professora. Depois veio a Toninha e a
Luzinete Cardoso ambas aposentadas hoje. Muito depois vieram Paulo Rozo,
Matilde, Araci e outros. Era o ano de 1981.
Decom/Sms – A senhora quer
falar sobre a merenda servida aos alunos?
Zenaide – A gente levava um
caldeirão e fazia uma fogueira no terreiro e cozinhava abóbora, quiabo e milho
verde. A chamada mistura era carne de Anta. A gente lavava bem levadinha colocava
vinagre, temperava, colocava na panela fechada pra pegar o gosto, depois fazia
um refogadinho colocava água e misturava os ingredientes. O arroz era colhido
aqui em Alvorada e vinha na palha, a gente socava no pilão e preparava.
Decom/Sms – Quais as grandes
dificuldades que a senhora enfrentou como professora naquele tempo em Alvorada?
Zenaide – O grande problema
eram as vicinais que a gente tinha que enfrentar até Ji Paraná a pé. Essa
situação durou até 1982. Quando chegava o dia 20 do mês de novembro pegávamos o
diário, plano de aula, as provas dos alunos e levávamos para a supervisora da
Seduc dar o visto lá em Ji Paraná. Tinha um detalhe, caso alguma coisa
estivesse errada, você tinha que consertar, muitos professores voltavam as suas
localidades para ajeitar eu corrigia o erro lá mesmo. No dia 24 de dezembro,
sai de lá e chegava em casa com o dia 25 amanhecendo.
Decom/Sms – Sabemos que os
sítios ficavam uns distantes dos outros. Como é que vocês se comunicavam em
caso de alguma urgência?
Zenaide – Tem umas histórias
interessantes aqui. No dia que aconteceu a fundação da cidade, veio o Assis
Canuto e o Toninho Geraldo que era o prefeito de Presidente Médici. Um compadre
havia prometido: “O dia que Alvorada virar uma cidade, vou matar uma vaca e dar
carne pra todo mundo”. A cidade cresceu e até hoje a vaca dele não
apareceu. O seu Joaquim Barbeiro foi
quem matou uma Anta e juntamente com outros preparou a carne, que foi servida
para o povo comer durante a festa.
Decom/Sms – E a comunicação?
Zenaide – Quando uma pessoa
adoecia, ou alguém queria comunicar alguma coisa, pegava o Berrante e tocava.
Quando a gente ouvia o Berrante era porque alguém estava precisando de alguma
coisa.
Decom/Sms – A gente sabe que
o professor no Brasil é muito desvalorizado. No seu caso que foi a primeira
professora de Alvorada, olhando para trás, valeu a pena ter se dedicado a
educação em Alvorada D’Oeste?
Zenaide – Valeu sim! Aliás,
ainda me sinto professora e sinto muito orgulho de ter contribuído com o
desenvolvimento de Alvorada D’Oeste, se fosse preciso, começaria tudo de novo.
Pela passagem de seus 28 anos de emancipação desejo PARABÉNS!
Joaquim
Barbeiro
Foi ele que matou a Anta
cuja carne, foi servida no dia que o administrador de Presidente Médici Toninho
Geral e o prefeito de Ji-Paraná Assis Canuto, aprovaram a distribuição dos
lotes urbanos. “Esse dia ficou como a data da fundação da cidade de Alvorada”.
Joaquim lamenta a falta de empreendimentos empresarias no munícipio. “Tinha
que ter uma indústria aqui nem que fosse
de peixe, pra segurar o povo”. Além
da história da Anta, Barbeiro lembra a mulinha – “Salvação de João Távora”.
Decom/Sms – Como é realmente
o seu nome completo?
Joaquim Barbeiro – Joaquim
Lopes dos Reis. Nasci no dia 10 de novembro de 1939 em Minas Gerais. Vim pra
Rondônia em 1971 justamente onde hoje é o município de Presidente Médici. As
datas ali eram muito baratas na época. Deixa contar desde o começo: Sai de Minas
Gerais parei em Marília, fui pra Dracena onde casei com a idade de 16 anos, fui
pro Mato Grosso tocando lavoura, já com seis filhos, foi quando um senhor falou
pra mim, que em Rondônia o governo estava dando 42 alqueires de terra. Aquilo
foi uma loucura. Vendi tudo que tinha, peguei carona numa mudança, joguei os
meninos dentro e vim embora. Parei em Médici que diziam, era um cocheiro do Zé
Milton Rios outros falavam que era “Pela Jegue”, nesse tempo entraram os
topógrafos pra tirar a Medição até Costa Marques e nós entramos junto, era
muita gente,
Decom/Sms – No rumo de Costa
Marques ou de Alvorada?
Joaquim Barbeiro – Foi
assim, quem tinha mais dinheiro pegou lote, ali da quarta Linha pra trás.
Sobrou pra nós do Rio Muqui pra cá, onde estava o João Távora e os demais
companheiros. O João Távora ficou ali
mesmo onde foi o motor da Ceron e eu fiquei na esquina da 56. Essa cidadezinha
não era aqui, o projeto dela era lá no São José. Nós então reunimos e falamos
pro João Távora: Você que é mais chegado com o governo fala pra ele mudar esse
negócio pra frente. O João conversou com eles e mudaram o projeto para o local
que a gente queria.
Decom/Sms – E?
Joaquim Barbeiro – Chegou o
Toninho Geraldo administrador de Médici e eu estava plantando um café e ele disse;
Olha seu Joaquim, não quero nenhuma casa cercada de coqueiro na principal e nem
coberta de tabuinha... Respondi, mas como é que a gente vai fazer uma casa de
tábua e como vai cobrir com Brasilit se isso não existe aqui, fiquei desgostoso
e vendi aquela data por 110 Mirreis.
Decom/Sms – Fale sobre a
história dos cadernos dos seus filhos?
Joaquim Barbeiro – Naquele
tempo, não havia sacolinha de plástico. Então no tempo da chuva eu cortava
aquelas folhas de banana do mato, pegava os caderninhos dos meus filhos
enrolava naquela folha e recomendava, quando vocês chegarem à escola, guarda
essa folhinha pra quando voltar enrolar os cadernos. A professora era dona
Zenaide. Cada dia era uma folha de bananeira, foram quase dois anos nessa luta.
Decom/Sms – E a história da
Anta que a mula do João Távora não aguentou carregar?
Joaquim Barbeiro – Levantei
e estava bebendo água quando vi aquela Anta do outro lado, eram os primeiros
dias da gente aqui, os companheiros já haviam partido na frente pra roçar a
clareira onde seria a cidade. Peguei a espingarda mirei bem e atirei e matei a
bicha. Tentamos colocar a Anta no lombo da mulinha do João Távora e ela não
aguentou o peso, foi preciso a gente cortar a Anta no meio. Fizemos uma
coivara, justamente onde hoje é o semáforo no centro da cidade e assamos a
carne, era o povo roçando e comendo carne de Anta, aquele dia ficou marcado
como a inauguração da abertura da cidade de Alvorada e estava o Assis Canuto e
o Toninho Geraldo.
Decom/Sms – Como é a
história da mula do João Távora?:
Joaquim Barbeiro – Foi Deus
quem mandou aquela mula pra ele, porque o João não iria aguentar um cacaio nas
costas de Médici até aqui. No tempo da Companhia Basevi quando morria alguém
era preciso acender fogo pra fazer fumaça e chamar a atenção para vir o
helicóptero pegar o cadáver. Certa vez acenderam o fogo e eles vieram e não
viram a fumaça o jeito foi arrumar o morto que era muito grande, em cima da
mulinha do João, foi aquele sufoco, o cadáver arrastando os pés e a gente
tocando a mulinha, quando chegamos perto do Rio Muqui o helicóptero da Basevi
viu a gente, baixaram ali mesmo pegaram o defunto e levaram para Ji Paraná.
Decom/Sms – O que o senhor
tem a dizer para a juventude quando Alvorada completa 28 anos de emancipação.
Joaquim Barbeiro – Meus
parabéns para Alvorada D’Oeste em especial, para as crianças, elas precisam
saber que fomos nós que abrimos a cidade e nós para elas somos exemplo porque
somos idosos e conhecemos o sofrimento que deu construir isso aqui.
Decom/Sms – O senhor é casado
com quem?
Joaquim Barbeiro – Com a
dona Arminda Rosa Durães Reis que está em São Paulo se tratando de câncer.
Temos 10 filhos, nove homens e uma mulher.
Decom/Sms – Vamos encerrar
com a história do seu neto?
Joaquim Barbeiro – Esses dias, a professora perguntou pra ele quem abriu Alvorada e ele não soube responder. Aí chegou em casa e veio comigo: Ei vô a professora perguntou quem abriu a cidade de Alvorada e eu não soube dizer. Quem foi vô? Uai você não sabe que foi eu! Foi o senhor vô!
Joaquim Barbeiro – Esses dias, a professora perguntou pra ele quem abriu Alvorada e ele não soube responder. Aí chegou em casa e veio comigo: Ei vô a professora perguntou quem abriu a cidade de Alvorada e eu não soube dizer. Quem foi vô? Uai você não sabe que foi eu! Foi o senhor vô!
Joviano
e Maria Magdalena
Nem mesmo morando no
perímetro urbano de Alvorada D’Oeste o casal Joviano e Maria Magdalena, deixou
o hábito de sitiante: “Moramos num lugar que apesar de ser na
cidade, deu pra plantarmos tudo que gostamos, aqui tem tangerina, uva, figo,
temos até a guabiroba, acerola, um jardim muito bonito e é isso, terceira
idade, aposentado e fazendo o que gostamos”.
Esse casal é Pioneiro de
Alvorada D’Oeste!
Decom/Sms
–
Vamos as identificações?
Joviano – Meu nome é Joviano
Magdalena, sou nascido em 18 de fevereiro de 1943.
Dona Maria – Nasci no dia 27
de julho de 1950, meu nome é Maria Aparecida Magdalena.
Decom/Sms – Como foi que
vocês vieram parar em Rondônia?
Joviano – Tinha um irmão
morando em Médici e sempre ele escrevia, naquele tempo não tinha telefone, e
insistia que a gente viesse pra cá, estávamos em 1975 pra 1976. Então vim pra
Rondônia, quando a estrada era precária, não tinha um quilo de asfalto.
Dona Maria – A gente tinha
quatro filhos, dos quais um faleceu com apenas três anos e os demais até hoje
estão vivos.
Joviano – Meu irmão tinha um
sítio na 6ª Linha e ele ofereceu se a gente podia ficar um período de tempo
naquela terra dele. Ali encontramos uma família abençoada que tinha como
patriarca o senhor José Leôncio que nos ajudou muito e as coisas foram
melhorando, plantamos feijão, arroz e então resolvemos mudar de vez para a 6ª
Linha. Conhecemos o seu Joaquim das Mulas um tropeiro que puxava borracha. Foi
quando soubemos que lá pras bandas onde hoje é Alvorada D’Oeste existia um
projeto para se criar uma cidade, fomos pra lá e já era no quilometro 52.
Decom/Sms – É verdade que os
cacaeiros ficavam receosos com a presença da dona Maria no meio da mata?
Dona Maria – A gente ia numa
boa, como amiga, chegava no São José e não tinha nada para passar e o povo
derrubava uma árvore fazia a pinguela e a gente passava com o cacaio nas
costas. Os homens cuidando da gente e a muriçoca tomando porre de sangue. No
Muqui a gente atravessa com a água na altura do peito.
Decom/Sms – Escuto falar
muito em Marcação. Uma marcação media quanto?
Joviano – Uma marcação mede
250 X 2000. Começamos plantando macaxeira, mandioca, café, milho um pouquinho
de tudo, era tudo manual. Que acontece, em vez de ficarmos na cidade, partimos
para o sítio.
Dona Maria – Aí juntou uma
turma de Presidente Médici naquele tempo o Toninho Geraldo era o administrador
de lá e os posseiros de Alvorada e fizeram o Picadão e então, veio as máquinas
arrancando os tocos, nisso veio o governador Teixeirão e lançou a pedra
fundamental de Alvorada só, que nessa época, já tinha muito posseiro vivendo da
produção de Alvorada.
Decom/Sms – Pelo que estou
vendo, vocês hoje moram na cidade e o sítio ainda existe:?
Dona Maria – Acontece que os
filhos se formaram, saíram e ficamos só nos dois. Aí a mãe dele adoeceu e veio
a falecer e ele foi viajar e eu fiquei sozinha. Precisa cortar cana para dar
pro gado, precisava tirar leite, lavar tambor tudo sozinha, os vizinhos eram
retirados. Quando ele voltou, no outro ano faleceu um irmão meu em Bauru e tive
que ir pra lá. Foi então que resolvemos: Se é pra ficar só nos dois aqui no
sítio e até porque não gozamos mais de plena saúde é melhor a gente vender e ir
morar na cidade e foi o que fizemos
Decom/Sms – No momento que
Alvorada D’Oeste completa 28 anos como município, o que os senhores tem a dizer
aos jovens?
Joviano – Quero dizer aos
jovens que não desanimem, enquanto estamos insistindo estamos indo pra frente.
Hoje quem não tiver estudo, não consegue nada. No mais, deixo nossos parabéns a
todos nós de Alvorada D’Oeste!
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