quarta-feira, 21 de maio de 2014

ALVORAD D'OESTE - O SONHO DE UM PIÁ

Pioneiros – A História de Todos Nós

A festa em comemoração aos 28 anos de emancipação de Alvorada D’Oeste será realizada entre os dias 29 de maio e 1º de junho, durante a 22ª Expoalvo coordenada pela AAPEAL em parceria com a prefeitura de Alvorada e apoio do governo do estado de Rondônia. A entrada será franqueada todas as noites.
A cidade município Alvorada D’Oeste nasceu, graças à admiração que o Piá (menino), João Távora Filho tinha pelo então presidente da República Juscelino Kubistchek, desde quando este anunciou que iria construir Brasília no meio do cerrado mato-grossense. “Um dia vou ter um sítio que futuramente vai ser uma cidade e vou colocar o nome de Alvorada”. O tempo passou o menino cresceu, casou e juntamente com a mulher Zenaide Távora e os filhos Nilton Cezar, Valdir, Maria Regina, Rosenaide e Nádia Paula no dia 13 de agosto de 1974 desembarcou em Presidente Médici então distrito de JI Paraná e abriu uma bicicletaria. “Certo dia chegou o Sebastião Preto e perguntou: Você quer comprar uma marcação? e eu: O que é marcação? Marcação é terra!”. Daí pra frente o sonho do menino, começou a virar realidade.
No dia 3 de abril de 1980 o administrador de Médici Antônio Geraldo da Silva – Toninho Geraldo reuniu com os pioneiros e aprovou o sistema de distribuição dos lotes urbanos e a abertura das primeiras ruas. No dia 22, o governador Jorge Teixeira e comitiva visita o povoado. O nome Alvorada foi idealizado por João Távora, confirmado por Toninho Geraldo e complementado com D’Oeste por Assis Canuto.
O município foi criado através da Lei estadual nº 103, assinada pelo então governador do estado de Rondônia Ângelo Angelim em 20 de maio de 1986.
O governo de Rondônia registra a história de Alvorada D’Oeste, ouvindo para o Projeto “Pioneiros - A História de Todos Nós” João Távora Filho, Zenaide Távora, Joaquim Barbeiro, Joviano e Maria Magdalena.

ENTREVISTAS

João Távora Filho


Aos 11 anos de idade, ele sonhou que um dia teria um sítio que se transformaria em cidade, com o nome de Alvora. João mantém por conta própria o Museu onde entre outras histórias, encontramos ferramentas que faziam parte do Cacaio dos primeiros posseiros. Apesar da sua dedicação à história de Alvorada, jamais foi homenageado pelo poder público da cidade que ajudou a criar. Acompanhe a fascinante história do seu João Távora Filho o idealizador de Alvorada D’Oeste.

Decom/Sms – Vamos a uma breve biografia?
João Távora – Meu nome é João Távora Filho, filiação, João Silveira Távora e Maria Abílio Cavalcante, paulista de Adamantina nascido no dia 15 de setembro de 1944.
Decom/Sms – É verdade que quando o senhor tinha apenas 11 anos de idade, sonhou em ter um sítio que depois seria transformado em cidade, com o nome de Alvorada?
João Távora – Aconteceu, que quando Juscelino Kubistchek decidiu criar Brasília, um de seus seguranças chegou e disse: “Tão dizendo que o senhor é louco”, no que ele respondeu: “Se eu não fosse louco não chegaria à presidência”. Então copiei dele essa atitude, de construir uma cidade no meio do nada, no nosso caso, no meio da floresta, essa decisão, tomei quando tinha apenas 11 anos de idade. O sonho também era colocar na cidade o nome Alvorada em homenagem ao palácio de Brasília.
Decom/Sms – Em que ano o senhor veio pra Rondônia e de onde?
João Távora - Vim de Cidade Gaúcha norte do Paraná perto de Umuarama, Cianorte e Paranavaí. Cheguei a Rondônia especificamente no distrito de Presidente Médice no dia 13 de agosto 1974.

Decom/Sms – E Alvorada?

João Távora – Ao chegar a Médice abri uma bicicletaria e também trabalhava como pintor. Certo dia chegou o Sebastião Alves Néri conhecido como Sebastião Preto e perguntou: “Você quer comprar uma marcação?” e eu: O que é marcação? “Marcação é terra!”. Fica a quantos quilômetros? “É bem aí” (fazendo o gesto com a boca) “52 km e tem que ir a pé com o cacaio nas costas” - E o que é cacaio? Fui indagando sobre tudo, pois de mato não conhecia nada. Para encurtar a conversa, viemos pra cá (Alvorada), marquei esse lote onde estamos hoje e faz parte da cidade e fomos roçando sem experiência nenhuma, éramos o único “pó de arroz” da turma. Em 1979 já com as plantações, o rancho feito, trouxe a família para morar no sítio Alvorada.
Decom/Sms – Para chegar até a primeira turma de alunos, muito água passou por debaixo da ponte. Certo?
João Távora – Farei um breve relato sobre essa história. Na data marcada, saímos de Médici rumo ao km 52: Satilião, Furtuoso, Nelson Preto, Antônio Santos, Zé Carlos Caetano, Zezinho, Chaguinha, Moises Amaral, Epaminondas, Zé Heleno, Pedrinho, Valdo, Arinaldo, Zé Balbino, Joaquim Barbeiro, Satilinho, Tião Preto, João Távora, Joventino, Dalmo, Sebastião, Aristides, Cachimbo de Ouro, Jorge Mariano e Zé Moraes. Quem tinha bicicleta pedalava pela picada aberta pelo INCRA até a 4ª Linha. Já com o cacaio nas costas e guiados pela topografia, percorremos até a 6ª Linha e pernoitamos no “Rancho das Pimentas”. Na madrugada do dia seguinte, após delicioso “Quebra Torto” (café com comida), continuamos e após descansarmos no topo da serra da 6ª Linha, caminhamos até o barraco próximo ao Rio Ricardo Franco (Muqui), jantamos e pernoitamos sobre folhas de coqueiros. Continuamos o trajeto até chegarmos ao barraco do senhor Satilião no km 50. Foram distribuídos os mutirões para cada Marcação e assim a gente ficava. Quando acabava a mercadoria voltávamos para Médice, rever a família, trabalhar para arrecadar mais dinheiro e comprar mercadoria para voltar para a Marcação.
Decom/Sms – O tempo todo fazendo esse percurso a pé?
João Távora – Nessas idas e vindas descobri que o Rio Ricardo Franco era navegável então, convidei o seu Wilson Larson (falecido recentemente) que tinha uma Marcação rio abaixo para me ajudar na exploração do Rio. Na época das chuvas trazíamos mercadorias de barco do Rio Machado até o Rio Ricardo Franco de onde era levada no lombo de animais (burros) até o barraco do senhor Furtuoso. Na estiagem o rio era inavegável.
Decom/Sms – E o sítio Alvorada quando surgiu?
João Távora – Quando resolvi abrir realmente o sítio Alvorada o meu sonho, começamos a roçar e o povo chegava: João Távora você tem mercadoria pra vender? Não, tenho pra trocar em dia de serviço. Quando o roçado chegou a 170 metros mais ou menos, admirei uma árvore com o tronco muito grosso e perguntei que árvore é essa? Isso é um Angelim! E eu disse, aqui temos a primeira serraria de Alvorada e os companheiros: Serraria de Alvorada, só porque o sítio dele é Alvorada vai ter uma serraria? Quase no final do lote, uns 540 metros, me deparei com outra árvore grossa e perguntei pro seu Epaminondas (falecido), que árvore é essa? É um Mogno! E disse, isso aqui vai ser para construir a igreja católica... Igreja católica no meio da mata, esse baixinho tá pirando, comentavam os cacaeiros. Nesse interim, consegui duas tábuas de madeira, coloquei justamente onde hoje é o semáforo no centro da cidade, e escrevi: “Breve neste local, Sítio Alvorada” pintei também o símbolo de Brasília.
Decom/Sms – E a cidade propriamente dita como começou?
João Távora – Ganhei a confiança dos companheiros e vendo a dificuldade de todos, no dia 5 de agosto de 1979, os convidei para uma reunião no sítio Alvorada isso consta em Ata, e durante a reunião falei: Gente, to vendo a dificuldade que passamos em ter que ir à Médici fazer compras, vamos abrir uma clareira nos quatro lotes iniciais da Linha 52, para iludir comerciantes a virem pra cá e acabar essa nossa dificuldade. Nomeamos do senhor Arinaldo Alexandre dos Santos como chefe do desmatamento, fui escalado pra pedir esmola, para comprar mantimento e gasolina, que aqui não tinha, para poder abrir as quatro quadras. No terceiro dia do desmatamento seu Arinaldo desistiu e o Santilinho assumiu o comando e começou a distribuição de terra urbana. Cada requerente pagava a importância de 200 Cruzeiros por cada documento.
Decom/Sms – Clareira aberta e os lotes negociados e depois?
João Távora – De Ji-Paraná, não lembro se ainda era Vila Rondônia, começaram a vir em botes, jerico com carretinha atrelada, Médicos para fazer consultas e distribuir remédios, assim como comerciantes começaram a se instalar. Quando fomos iniciar a cidade, convidamos o Padre Romano que veio de Ji Paraná a pé até a linha 52 e rezou no dia 21 de janeiro de 1980 a 1ª Missa Campal e ainda fez o casamento de Arnaldo e Maria Vilma e mais quatro batizados, além de colocar a pedra fundamental da futura Matriz de Alvorada.
Decom/Sms – Como o INCRA entra na história de Alvorada?
João Távora – Quando fui pra Ji Paraná juntamente com o Toninho Geraldo que era o administrador de Médice, visitar o prefeito Assis Canuto. Pedi pra ele (Canuto), fazer a vistoria do INCRA em Alvorada e ele ligou pro Doutor Josemar e disseram que haviam feito marcação em Alvorada e eu disse que não, - Porque o senhor diz que não houve a marcação? Porque moro lá!. Então fomos conversar com o Josemar eu, Toninho Geraldo, seu Jovelino e o seu Otávio Dourado. Quem é João Távora perguntou o Dr. Josemar, sou eu! O senhor disse pro Dr. Canuto que não fizemos vistoria, você tem certeza? Tenho! Aí vieram os técnicos e após nossa afirmação, foram escaladas duas pessoas para fazer o trabalho. Isso foi em 1.977.
Decom/Sms – Qual o seu relacionamento com o governador Jorge Teixeira?
João Távora – O gabinete do Teixeirão era dentro do helicóptero, e o chão que ele gostava de pisar era em cima de tambor de combustível para ser ouvido pelo povo. Ele conhecia todos de Alvorada pelo nome. No dia 22 de abril, ele desceu do helicóptero numa clareira que a gente fez. Fomos lá e me identifiquei e ele então me disse: “Deus guia os pioneiros cacaeiros de caráter, na frente, depois de tudo pronto, o diabo tange os ratos atrás”.
Decom/Sms – Quem foi o primeiro prefeito eleito de Alvorada?
João Távora – Arnaldo Xavier de Oliveira que teve como vice o Wanderlei Rocha Rodrigues para um mandato de dois anos. Acontece que quando foram criar Alvorada não aceitamos que fosse distrito, então criaram como Núcleo de Apoio Rural – NUAR.
Decom/Sms – E a emancipação política aconteceu quando?
João Távora – O Projeto de Lei de emancipação do Município de Alvorada D’Oeste é de autoria do deputado estadual Gersi Badocha. O município foi criado através da Lei estadual 103, assinada pelo então governador Ângelo Angelim no dia 20 de maio de 1986.
Decom/Sms – Criado o município o prefeito eleito e empossado assim como os vereadores! João Távora o idealizador de tudo, foi contemplado pelo menos com uma placa de reconhecimento?
João Távora – Quando o Teixeirão disse que os ratos tomariam conta estava certo. No primeiro mandato veio um pessoal do Sul e tomou conta da cidade por 26 anos, enterraram a cidade, não deixaram Alvorada se desenvolver, só o bolso deles.
Decom/Sms – Vamos começar a encerrar essa conversa. Estamos vendo que o senhor montou um Museu com a história de Alvorada. Conte de onde surgiu essa ideia?
João Távora – Estava eu e meu sogro conversando lá em Cidade Gaúcha (PR) já de saída para Rondônia, quando chegou uma professora e disse, pro meu sogro, seu Antônio vim aqui pro senhor contar a história de Cidade Gaúcha e ele respondeu, “sou vereador, não sei contar a história de Gaúcha”. Foi então que vi que a história de uma cidade era e é muito importante. Lembrando disse montei o Museu. Hoje muitos alunos vem aqui fazer pesquisa, é um ponto turístico do município.
Decom/Sms – O senhor já foi homenageado pelo poder público como Pioneiro de Alvorada e de Rondônia?
João Távora – Jamais! Tem esse bairro onde moro, que o povo colocou o nome de “João Távora” já tentaram trocar, mas como já existe CEP essas coisas todas, deixaram.  Quanto ao Museu é mantido com recursos oriundo do aluguel de alguns imóveis que tenho. Oito prefeitos de Alvorada e nenhum nunca se preocupou e nem quer saber se tem um Museu na cidade, nem o Secretário de Educação de Alvorada conhece o Museu.
Decom/Sms – Para encerrar. Gostaríamos de em nome do governo do estado de Rondônia de parabeniza-lo por ter tido a ideia de criar uma cidade no meio da floresta. O senhor é quem merece todos os parabéns no dia do aniversário de 28 anos de emancipação de Alvorada D'Oeste!


Zenaide de Souza Távora

A primeira escola de Alvorada foi criada por ela que também foi sua primeira professora: “A escola era de pau a pique, o quadro negro uma tábua e o giz era carvão”. Dona Zenaide se diz muito orgulhosa por ter contribuído com o desenvolvimento de Alvorada D’Oeste.

Decom/Sms – Primeiramente diga seu nome completo?
Zenaide – Antigamente era Zenaide de Souza Távora, depois que me separei ficou Zenaide Rodrigues de Souza, mas, põe Távora que todo mundo conhece.
Decom/Sms – Agora vamos a sua história em Rondônia?
Zenaide - Vim para Rondônia em 1974. Chegamos a Presidente Médici e o João montou uma bicicletaria e eu era doméstica, como a carência de professores era muita, uma amiga me convidou para dar aula, então fui assinar contrato como professora em Porto Velho. Devo esclarecer que tinha apenas a 7ª série. Após seis meses, fui fazer um curso em Ji Paraná ministrado pelo Irineu.
Decom/Sms – Quando seu marido decidiu se embrenhar na mata com a finalidade de abrir um sítio, a senhora concordou ou não?
Zenaide – Quando ele resolveu abrir o sítio Alvorada, disse, vamos que te ajudo financeiramente. No inicio ele ia apenas com os cacaeiros depois, já com o Sítio aberto, decidiu pela nossa mudança de Médici para lá. A gente colocava as mercadorias no cacaio de uma mulinha e seguia a pé ao lado. Muitas vezes a gente dormia na mata. Para espantar as onças que geralmente rondavam nosso acampamento, fazia uma fogueira. Quando chegava ao Rio Muqui (Ricardo Franco), soltava a mulinha e ela atravessava, o problema era quando a bicha empacava no meio do rio, era verdadeiro sufoco. Durante três anos a gente fez o percurso de Médici a Alvorada a pé pelas “picadinhas”, depois foi que vieram as rabetas (voadeiras).
Decom/Sms – Quando vocês passaram a morar no sítio Alvorada segundo consta, a senhora abriu uma escola. Fale sobre a história dessa escola?
Zenaide – O sítio Alvorada era na mata, então fomos abrir a escola lá no Km 47,5 no sítio do seu Antônio. Reunimos os pais e eles construíram a escola de “pau a pique”, as carteiras eram de madeira bruta e o quadro negro era uma tábua e o giz carvão. Depois viemos para o centro do povoado que estava a cada dia crescendo mais. A primeira escolinha foi onde hoje está a agencia dos Correios aí o Irineu falou, Zenaide é preciso dar um nome pra essa escola, então sugeriu, vamos colocar o nome de Escola Santa Ana. Essa escola existe até hoje funcionando em outro local, mas, com o mesmo nome. Eu dava aula para alunos da 1ª até a 4ª série, tudo na mesma sala. Foram três anos como a única professora. Depois veio a Toninha e a Luzinete Cardoso ambas aposentadas hoje. Muito depois vieram Paulo Rozo, Matilde, Araci e outros. Era o ano de 1981.
Decom/Sms – A senhora quer falar sobre a merenda servida aos alunos?
Zenaide – A gente levava um caldeirão e fazia uma fogueira no terreiro e cozinhava abóbora, quiabo e milho verde. A chamada mistura era carne de Anta. A gente lavava bem levadinha colocava vinagre, temperava, colocava na panela fechada pra pegar o gosto, depois fazia um refogadinho colocava água e misturava os ingredientes. O arroz era colhido aqui em Alvorada e vinha na palha, a gente socava no pilão e preparava.
Decom/Sms – Quais as grandes dificuldades que a senhora enfrentou como professora naquele tempo em Alvorada?
Zenaide – O grande problema eram as vicinais que a gente tinha que enfrentar até Ji Paraná a pé. Essa situação durou até 1982. Quando chegava o dia 20 do mês de novembro pegávamos o diário, plano de aula, as provas dos alunos e levávamos para a supervisora da Seduc dar o visto lá em Ji Paraná. Tinha um detalhe, caso alguma coisa estivesse errada, você tinha que consertar, muitos professores voltavam as suas localidades para ajeitar eu corrigia o erro lá mesmo. No dia 24 de dezembro, sai de lá e chegava em casa com o dia 25 amanhecendo.
Decom/Sms – Sabemos que os sítios ficavam uns distantes dos outros. Como é que vocês se comunicavam em caso de alguma urgência?
Zenaide – Tem umas histórias interessantes aqui. No dia que aconteceu a fundação da cidade, veio o Assis Canuto e o Toninho Geraldo que era o prefeito de Presidente Médici. Um compadre havia prometido: “O dia que Alvorada virar uma cidade, vou matar uma vaca e dar carne pra todo mundo”. A cidade cresceu e até hoje a vaca dele não apareceu.  O seu Joaquim Barbeiro foi quem matou uma Anta e juntamente com outros preparou a carne, que foi servida para o povo comer durante a festa.
Decom/Sms – E a comunicação?
Zenaide – Quando uma pessoa adoecia, ou alguém queria comunicar alguma coisa, pegava o Berrante e tocava. Quando a gente ouvia o Berrante era porque alguém estava precisando de alguma coisa.
Decom/Sms – A gente sabe que o professor no Brasil é muito desvalorizado. No seu caso que foi a primeira professora de Alvorada, olhando para trás, valeu a pena ter se dedicado a educação em Alvorada D’Oeste?
Zenaide – Valeu sim! Aliás, ainda me sinto professora e sinto muito orgulho de ter contribuído com o desenvolvimento de Alvorada D’Oeste, se fosse preciso, começaria tudo de novo. Pela passagem de seus 28 anos de emancipação desejo PARABÉNS!


Joaquim Barbeiro

Foi ele que matou a Anta cuja carne, foi servida no dia que o administrador de Presidente Médici Toninho Geral e o prefeito de Ji-Paraná Assis Canuto, aprovaram a distribuição dos lotes urbanos. “Esse dia ficou como a data da fundação da cidade de Alvorada”. Joaquim lamenta a falta de empreendimentos empresarias no munícipio. “Tinha que ter uma indústria aqui  nem que fosse de peixe, pra segurar o povo”. Além da história da Anta, Barbeiro lembra a mulinha – “Salvação de João Távora”.


Decom/Sms – Como é realmente o seu nome completo?
Joaquim Barbeiro – Joaquim Lopes dos Reis. Nasci no dia 10 de novembro de 1939 em Minas Gerais. Vim pra Rondônia em 1971 justamente onde hoje é o município de Presidente Médici. As datas ali eram muito baratas na época. Deixa contar desde o começo: Sai de Minas Gerais parei em Marília, fui pra Dracena onde casei com a idade de 16 anos, fui pro Mato Grosso tocando lavoura, já com seis filhos, foi quando um senhor falou pra mim, que em Rondônia o governo estava dando 42 alqueires de terra. Aquilo foi uma loucura. Vendi tudo que tinha, peguei carona numa mudança, joguei os meninos dentro e vim embora. Parei em Médici que diziam, era um cocheiro do Zé Milton Rios outros falavam que era “Pela Jegue”, nesse tempo entraram os topógrafos pra tirar a Medição até Costa Marques e nós entramos junto, era muita gente,
Decom/Sms – No rumo de Costa Marques ou de Alvorada?
Joaquim Barbeiro – Foi assim, quem tinha mais dinheiro pegou lote, ali da quarta Linha pra trás. Sobrou pra nós do Rio Muqui pra cá, onde estava o João Távora e os demais companheiros.  O João Távora ficou ali mesmo onde foi o motor da Ceron e eu fiquei na esquina da 56. Essa cidadezinha não era aqui, o projeto dela era lá no São José. Nós então reunimos e falamos pro João Távora: Você que é mais chegado com o governo fala pra ele mudar esse negócio pra frente. O João conversou com eles e mudaram o projeto para o local que a gente queria.
Decom/Sms – E?
Joaquim Barbeiro – Chegou o Toninho Geraldo administrador de Médici e eu estava plantando um café e ele disse; Olha seu Joaquim, não quero nenhuma casa cercada de coqueiro na principal e nem coberta de tabuinha... Respondi, mas como é que a gente vai fazer uma casa de tábua e como vai cobrir com Brasilit se isso não existe aqui, fiquei desgostoso e vendi aquela data por 110 Mirreis.
Decom/Sms – Fale sobre a história dos cadernos dos seus filhos?
Joaquim Barbeiro – Naquele tempo, não havia sacolinha de plástico. Então no tempo da chuva eu cortava aquelas folhas de banana do mato, pegava os caderninhos dos meus filhos enrolava naquela folha e recomendava, quando vocês chegarem à escola, guarda essa folhinha pra quando voltar enrolar os cadernos. A professora era dona Zenaide. Cada dia era uma folha de bananeira, foram quase dois anos nessa luta.
Decom/Sms – E a história da Anta que a mula do João Távora não aguentou carregar?
Joaquim Barbeiro – Levantei e estava bebendo água quando vi aquela Anta do outro lado, eram os primeiros dias da gente aqui, os companheiros já haviam partido na frente pra roçar a clareira onde seria a cidade. Peguei a espingarda mirei bem e atirei e matei a bicha. Tentamos colocar a Anta no lombo da mulinha do João Távora e ela não aguentou o peso, foi preciso a gente cortar a Anta no meio. Fizemos uma coivara, justamente onde hoje é o semáforo no centro da cidade e assamos a carne, era o povo roçando e comendo carne de Anta, aquele dia ficou marcado como a inauguração da abertura da cidade de Alvorada e estava o Assis Canuto e o Toninho Geraldo.
Decom/Sms – Como é a história da mula do João Távora?:
Joaquim Barbeiro – Foi Deus quem mandou aquela mula pra ele, porque o João não iria aguentar um cacaio nas costas de Médici até aqui. No tempo da Companhia Basevi quando morria alguém era preciso acender fogo pra fazer fumaça e chamar a atenção para vir o helicóptero pegar o cadáver. Certa vez acenderam o fogo e eles vieram e não viram a fumaça o jeito foi arrumar o morto que era muito grande, em cima da mulinha do João, foi aquele sufoco, o cadáver arrastando os pés e a gente tocando a mulinha, quando chegamos perto do Rio Muqui o helicóptero da Basevi viu a gente, baixaram ali mesmo pegaram o defunto e levaram para Ji Paraná.
Decom/Sms – O que o senhor tem a dizer para a juventude quando Alvorada completa 28 anos de emancipação.
Joaquim Barbeiro – Meus parabéns para Alvorada D’Oeste em especial, para as crianças, elas precisam saber que fomos nós que abrimos a cidade e nós para elas somos exemplo porque somos idosos e conhecemos o sofrimento que deu construir isso aqui.
Decom/Sms – O senhor é casado com quem?
Joaquim Barbeiro – Com a dona Arminda Rosa Durães Reis que está em São Paulo se tratando de câncer. Temos 10 filhos, nove homens e uma mulher.
Decom/Sms – Vamos encerrar com a história do seu neto?
Joaquim Barbeiro – Esses dias, a professora perguntou pra ele quem abriu Alvorada e ele não soube responder. Aí chegou em casa e veio comigo: Ei vô a professora perguntou quem abriu a cidade de Alvorada e eu não soube dizer. Quem foi vô? Uai você não sabe que foi eu! Foi o senhor vô!

Joviano e Maria Magdalena



Nem mesmo morando no perímetro urbano de Alvorada D’Oeste o casal Joviano e Maria Magdalena, deixou o hábito de sitiante: “Moramos num lugar que apesar de ser na cidade, deu pra plantarmos tudo que gostamos, aqui tem tangerina, uva, figo, temos até a guabiroba, acerola, um jardim muito bonito e é isso, terceira idade, aposentado e fazendo o que gostamos”.
Esse casal é Pioneiro de Alvorada D’Oeste!

Decom/Sms – Vamos as identificações?
Joviano – Meu nome é Joviano Magdalena, sou nascido em 18 de fevereiro de 1943.
Dona Maria – Nasci no dia 27 de julho de 1950, meu nome é Maria Aparecida Magdalena.
Decom/Sms – Como foi que vocês vieram parar em Rondônia?
Joviano – Tinha um irmão morando em Médici e sempre ele escrevia, naquele tempo não tinha telefone, e insistia que a gente viesse pra cá, estávamos em 1975 pra 1976. Então vim pra Rondônia, quando a estrada era precária, não tinha um quilo de asfalto.
Dona Maria – A gente tinha quatro filhos, dos quais um faleceu com apenas três anos e os demais até hoje estão vivos.
Joviano – Meu irmão tinha um sítio na 6ª Linha e ele ofereceu se a gente podia ficar um período de tempo naquela terra dele. Ali encontramos uma família abençoada que tinha como patriarca o senhor José Leôncio que nos ajudou muito e as coisas foram melhorando, plantamos feijão, arroz e então resolvemos mudar de vez para a 6ª Linha. Conhecemos o seu Joaquim das Mulas um tropeiro que puxava borracha. Foi quando soubemos que lá pras bandas onde hoje é Alvorada D’Oeste existia um projeto para se criar uma cidade, fomos pra lá e já era no quilometro 52.
Decom/Sms – É verdade que os cacaeiros ficavam receosos com a presença da dona Maria no meio da mata?
Dona Maria – A gente ia numa boa, como amiga, chegava no São José e não tinha nada para passar e o povo derrubava uma árvore fazia a pinguela e a gente passava com o cacaio nas costas. Os homens cuidando da gente e a muriçoca tomando porre de sangue. No Muqui a gente atravessa com a água na altura do peito.
Decom/Sms – Escuto falar muito em Marcação. Uma marcação media quanto?
Joviano – Uma marcação mede 250 X 2000. Começamos plantando macaxeira, mandioca, café, milho um pouquinho de tudo, era tudo manual. Que acontece, em vez de ficarmos na cidade, partimos para o sítio.
Dona Maria – Aí juntou uma turma de Presidente Médici naquele tempo o Toninho Geraldo era o administrador de lá e os posseiros de Alvorada e fizeram o Picadão e então, veio as máquinas arrancando os tocos, nisso veio o governador Teixeirão e lançou a pedra fundamental de Alvorada só, que nessa época, já tinha muito posseiro vivendo da produção de Alvorada.
Decom/Sms – Pelo que estou vendo, vocês hoje moram na cidade e o sítio ainda existe:?
Dona Maria – Acontece que os filhos se formaram, saíram e ficamos só nos dois. Aí a mãe dele adoeceu e veio a falecer e ele foi viajar e eu fiquei sozinha. Precisa cortar cana para dar pro gado, precisava tirar leite, lavar tambor tudo sozinha, os vizinhos eram retirados. Quando ele voltou, no outro ano faleceu um irmão meu em Bauru e tive que ir pra lá. Foi então que resolvemos: Se é pra ficar só nos dois aqui no sítio e até porque não gozamos mais de plena saúde é melhor a gente vender e ir morar na cidade e foi o que fizemos
Decom/Sms – No momento que Alvorada D’Oeste completa 28 anos como município, o que os senhores tem a dizer aos jovens?

Joviano – Quero dizer aos jovens que não desanimem, enquanto estamos insistindo estamos indo pra frente. Hoje quem não tiver estudo, não consegue nada. No mais, deixo nossos parabéns a todos nós de Alvorada D’Oeste!

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