Era o carnaval de 1964, os desfiles carnavalescos estavam acontecendo na ladeira da avenida Presidente Dutra. Naquele tempo a grande atração do carnaval eram os desfiles dos Clubes Sociais.
Um dos
pontos de concentração dos espectadores dos desfiles carnavalescos, era a
Varanda Tropical do Porto Velho Hotel. Justamente na Varanda Tropical do Hotel
mais chic da Cidade estavam alguns jovens moradores do bairro Caiari entre eles,
Zeca Melo, Luiz Hosana, Mel Otino, Paulo França, João Gouveia, Tucano (Zé Carlos
Lobo), João Ramiro e o Pinga Tinoco entre outros (se alguém ficou de fora, me
liga que corrijo) e por sugestão do Zeca Melo resolveram desfilar. Correram
para o bairro e concentrados na casa do Zeca se pintaram de Urucum, Maisena, Carvão
e outras tintas, conseguiram latas, frigideiras, panela e até penico e foram
para a Presidente Dutra e desceram a ladeira, batucando no rumo do Palanque Oficial
armado na rua Henrique Dias, entre a Agencia do Banco do Brasil (hoje
restaurante do Sesc) e o Prédio da Associação Comercial de Rondônia.
Atuando
como Mestre de Cerimônia estava o locutor Milton Alves que ao ver aquele Bloco
se aproximando do Palanque, sem saber de quem se tratava, foi até a frente da
sede do Banco da Borracha (BASA), e identificou alguns dos foliões que estavam “melados”
de urucum e de volta à locução anunciou: “Se Aproxima do Palanque Oficial o Bloco OS
POBRES DO CAIARI.
Passado
o desfile que naquele ano de 1964, aconteceu no dia 11 de fevereiro, uma terça
feira, (naquele tempo os desfiles oficiais aconteciam terça feira de carnaval),
Zeka Melo junto com o José Carlos Lobo que já vinham conversando sobre a ideia
de criar uma escola de samba no bairro Caiari. Essas conversas aconteciam
sempre num comercio de propriedade do Zé Carlos Lobo que ficava no Mercado
Municipal com frente para a travessa Renato Medeiros (hoje calçadão Manelão), e
eu sempre participava. No dia 28 de fevereiro daquele ano (1964), Zeka Melo e
Zé Carlos na presença de vários moradores do Caiari e eu estava presente,
anunciou a Criação do IMPÉRIO DO SAMBA “OS POBRES DO CAIARI”.
Em
1965 o Império do Samba Participou dos desfiles das Escolas de Samba de Porto
Velho que desde de 1960, só contava com a Escola Os Diplomatas. Comandando a
bateria estavam Zé Carlos Lobo e Silvio Santos. A escola passou pelo Palanque
da Presidente Dutra cantando o samba: “Um dia encontrei Rosa Maria, na Beira da
Praia...); Já em 1966 Zeka Melo resolveu colocar desfilando com a Bateria do
Império do Samba Os Pobres do Caiari, um bloco de Originalidade, fato que se
repetiu no carnaval de 1967, não lembro bem a ordem dos temas, mas, Zeka
colocou como tema o bloco dos “Chapéus” e bloco da “Malária”, ambos foram
campeão nas suas categorias.
A
Caiari desfilava apenas com a bateria acompanhando esses blocos. Em 1968, Seu
Vilvaldo Mendes influenciado pelo seu Filho Hiran Brito Mendes, mandou confeccionar
na oficina da Estrada de Ferro Madeira Mamoré alegorias com as miniaturas de
uma composição férrea, como a Locomotiva 12, Trole, Cegonha e outras
composições. Todos os brincantes das alas desfilaram vestidos de trabalhadores
da Madeira Mamoré com alguns portando como adereço: enxada, pá, picareta e outras ferramentas. Apesar de não ter música
própria como Samba de Enredo, aquele desfile que ficou conhecido como o “Bloco
do seu Vivaldo”, podemos considerar como o primeiro enredo a ser apresentado
por uma escola de samba de Porto Velho, o que jamais chegou a ser reconhecido
como tal.
Em 1969
a escolinha como era chamada a Caiari, fez um desfile recheado de fantasias
luxuosas e mesmo assim, não ganhou da Diplomatas, porém, a professora Marise
Castiel estava na avenida e prestou atenção no desfile da Caiari porque algumas
de suas filhas desfilaram. Passados alguns dias, ela procurou a direção da
escola e se propôs a ajudar no que fosse preciso para melhorar, o que ela
considerou como falta de organização e assim, assumiu a direção de carnaval da
escola com a missão de fazer o que achava melhor para levar a escola a sua
primeira vitória.
Marise
então, resolveu colocar o enredo “Sinhá Moça e a Abolição” e convocou
o Silvio Santos para fazer o samba de enredo e o resultado, foi que no carnaval
de 1970, a Caiari ganhou o seu primeiro título de campeã do carnaval de rua de
Porto Velho, fato que se repetiu em 1971 com o enredo “Isto é o Brasil” (samba
de Silvio) e em 1972 com o enredo “Brasil Esplendor das Três Raças” (samba de
Silvio e João Feitosa); em 1973 a escola não desfilou, voltou em 1974 com o
enredo “Odoiá Bahia” de Silvio e Bainha.
A
Caiari parou de desfilar em 1975 e só voltou no ano de 1979, quando voltou a
ganhar os títulos de 1979, 1980 e 1981.
Na década
de 1980 houve uma alternância no campeonato, um ano a Caiari ganhava e no outro
a Diplomatas. A Caiari venceu em 1983, 1985 (empatada), 1986 e 1989 (em 1988
Caiari e Diplomatas não desfilaram), voltou a vencer em 1991 e até suspender os
desfiles em 2000 não ganhou mais nenhum título, apesar de na década de 1990,
ter colocado na avenida, enredos geniais, porém, não conseguiu vencer nem um
carnaval.
Em
1984 Chagas Neto Assume a coordenação da escola e a transforma em Grêmio
Recreativo Escola de Samba “Os Pobres do Caiari” o que permanece até os
dias de hoje.
Mesmo
sem desfilar desde o ano de 2001 a Caiari continua funcionando como pessoa
física, inclusive com diretoria eleita. Há alguns anos a luta dos dirigentes é
voltar a colocar a escola desfilando na avenida, porém, está achando
dificuldade quanto a patrocínio para voltar com força total. Existe atualmente
um movimento liderado pelo Cleverson Santana no sentido de reabrir o barracão
da Pinheiro Machado e tudo parece, estar dando certo, não fosse a Pandemia, com
certeza, a escola já estaria funcionando a todo vapor.
Só nos
resta desejar à família azul e branco da Escola de Samba Os Pobres do Caiari sucesso
e que a escola volte a nos proporcionar grandes desfiles. Parabéns para nós!
DEZ ANOS SEM O GENERAL DA BANDA
No dia
de ontem 28 de fevereiro, completou 10 anos do passamento do carnavalesco
Manoel Costa Mendonça – MNAELÃO fundador da Banda do Vai Quem Quer.
Por coincidência,
Menelão morreu no dia da criação da escola de samba “Os Pobres do Caiari” na
qual brincava desde desde o carnaval de 1966, chegando a ser presidente entre os
anos de 1988/1989 quando foi campeão do carnaval com o enredo ‘MUNDO DA CRIANÇA’,
festejando os 25 anos da escola de seu coração.
Saudades
do amigo Manelão!