Histórias do menino barrigudo (Saqueiro na Feira)
04/10/2010 -
[06:30] - Política
Por Silvio Santos
Saqueieirooo! Saqueieirooo! Assim
“Barrigudo” levava a vida na Feira Livre que existiu no local onde hoje
funciona o Mercado Central, no quadrilátero formado pelas ruas Farquar,
Euclides da Cunha, Henrique Dias e Travessa Renato Medeiros. O grito de saqueieirooo
era praticado por todos os meninos que vendiam saco feito de folha de saco
cimento na Feira Modelo, esse era o nome da Feira Livre inaugurada em Porto
Velho em meado da década de 1950.
Barrigudo começou suas atividades
como vendedor de saco, carregador de água para as banqueiras, vendedor de
mingau e outras coisas, assim que sua mãe ficou viúva e para sustentar os
filhos, colocou banca de venda de comida na Feira Livre que existia em frente
ao Mercado Municipal (hoje Mercado Cultural) pelo lado do palácio do governo.
Quando o governo resolveu inaugurar
oficialmente o palácio em 1954, a feira foi transferida para um galpão
construído no espaço que ficava entre o Clube Internacional (Hoje Ferroviário)
e o prédio da Usina que pertencia ao Serviço de Água, Luz e Força do Território
Federal de Rondônia - SALFT (hoje é a sede da Ceron/Eletrobrás). A rua
existente ali ficou conhecida como rua do Coqueiro hoje é a Euclides da Cunha.
A feira livre naquele local era
provisória, pois a prefeitura estava construindo o local definitivo ao lado de
uma dos casarões da Estrada de Ferro Madeira Mamoré que ficava nos fundos do
recém inaugurado Prédio do Relógio.
Acontece que nesse ínterim, a mãe de
Barrigudo, juntamente com outras pessoas, conseguiu licença junto à direção da
Estrada de Ferro Madeira Mamoré e construiu uma casa bem em frente da Feira
Modelo pela rua Farquar.
A Feira Modelo só funcionava de 5ª
feira, ao meio dia de sábado. Quinta feira a tarde chegava o Trem da Feira que
vinha com produtos dos agricultores que moravam ao longo da via férrea entre o
KM 25 (Teotônio) até Porto Velho. Sexta feira era vez de chegar a Lancha do
Beiradão que vinha com os produtos dos agricultores que moravam entre São
Carlos e Porto Velho. “A gente pegava carreto para transportar cachos de
banana, saco de carvão e outros produtos do trem ou da lancha para a Feira”
conta Barrigudo, acontece que no percurso para feira, ele ia tirando banana da
palma e deixando no chão, enquanto um comparsa previamente combinado, ia
juntando. “Aquelas bananas a gente botava para amadurecer e vendia”. Muito
“peralta” Barrigudo não deixava escapar nada. Sempre estava procurando confusão
com os meninos que apareciam pela feira. Os comerciantes que tinha boxe sabendo
que Barrigudo não enjeitava nenhuma parada, quando viam um menino estranho no
pedaço, ofereciam Cinco Cruzeiros (Barão do Rio Branco) se o Barrigudo tivesse
coragem de dar um tapa no intruso. Barrigudo não contava conversa, ia lá Pou!
Voltava e recebia a grana.
Os quintais das casas daquela vila
que ficava em frente à feira pela Farquar, quando era o tempo das praias, nos
meses de agosto setembro, eram alugados aos “Condutores” da EFMM para servir de
depósito de tartaruga e tracajá que vinha de Guajará Mirim para serem vendidos
em Porto Velho. O condutor que alugava o quintal da casa do barrigudo era o
Armando Holanda conhecido como “Periquito”. Barriguda durante a noite riscava
um palito de fósforo perto do nariz da tartaruga que morria asfixiada. Na manhã
seguinte, Periquito chegava e queria saber se alguma tartaruga havia morrido e
Barrigudo ia direto naquela que ele havaí asfixiado na noite anterior e então
Periquito ordenava que ele jogasse a “bicha” fora. No meio do mato Barrigudo
abria o peito da tartaruga e retirava os ovos que eram vendidos na feira.
O menino cresceu, estudou se formou,
aprendeu a arte da tipografia nas oficinas do jornal Alto Madeira foi trabalhar
como radialista na Rádio Caiari, passou pelos jornais A Tribuna, onde se
transformou em Zé Katraca, foi para O Guaporé, Estadão e há mais de vinte anos,
é integrante da família Diário da Amazônia e continua Barrigudo!
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