“E
lá vem ela, a Diva e majestade do nosso imaterial cultural e popular, a nos
levar - assim como leves plumas ao vento - no bailado e sonhado sonho da folia
carnavalesca!”
Por:
Altair Santos (Tatá)
Hoje
cedinho sairemos de casa aos primeiros raios do sol ou pingos da chuva,
animados ao toque do Clarim que acordará o povo a saltar da cama e despertar
pra festiva realidade costumeira do sábado de carnaval. E nessa religiosidade,
a cidade Porto, como em nenhum outro dia do ano, vê e sente o seu metabolismo
alterado de um estado de ponto comum para uma urbe em ebulição, a ferver no
mega-temperado caldeirão cultural afinal, hoje,
lá vem a Banda, a Banda do Vai Quem Quer!
Passaremos
pelo Mercado Central onde os magarefes e demais feirantes trabalham com
indisfarçável pressa, taxistas no ponto ou no trânsito levando passageiros
conversam sobre o tema do dia, no centro comercial foliões compram adereços e
outros badulaques, pra se fazerem paramentados nas cores do grande cortejo. O motorista
de ônibus, assim como vimos certa vez, de ponto em ponto, vai assoviando a
melodia daquela marchinha que diz “chegou a banda, a banda, a banda, a banda do
vai quem quer...”
Desde
cedo, a partir dos bairros, centenas de pessoas rumam para o centro da cidade
num serpenteado êxodo folião, todos atendendo o chamado que já reside no
automático de suas vidas cujo botão de start é a Banda. Essas romarias
ao se fundirem formam a grandiosa procissão. Nas ruas, o solo histórico e
sagrado salão da capital, o carnaval come no centro e nossas vidas passam a ser
embaladas pela mais organizada iniciativa civil, que traduz em cada um, o seu
direito, a sua liberdade e, claro, o seu cuidado e respeito ao próximo!
Ambulantes
e outros trabalhadores informais abastecidos com bebidas e um diversificado
cardápio de iguarias formam o grande exército de atenção e atendimento ao
público. Nesse grande teatro, Pierrôs e Colombinas, palhaços, super-heróis e
outros mascarados num conjunto de imagens multifacetadas, exibem o desdobramento
de um enredo tatuado no querer e no sentimento cultural e popular: o Carnaval.
Essas
são demonstrações de que a banda, o grande cordão carnavalesco do norte
brasileiro, há anos se injetou na veia e na alma da cidade, ela é a poesia, a
melodia e dança do dia, por isso, inegavelmente, a Diva do nosso carnaval, a
majestade do nosso cultural imaterial.
No
sábado de carnaval a cidade é tão carnaval, é tão Banda que, até mesmo os que
delam não gostam, não participam ou a reprovam, se exercem e se aviam, em torno
do seu portentoso acontecimento. Os que gostam, vão, cantam, dançam e brincam.
Os que não gostam, exercem seus direitos de não ir, retiram-se, viajam, ficam
em casa. Os mais incomodados satanizam o bloco, jogam-lhe as pechas de ser a
encapetada, semblante do capiroto, encarnação do espírito mau.
Alheia
e isenta do puritanismo hipócrita e do moralismo de chapéu de vidro, a Banda
segue o seu curso, festiva, alegre, irreverente e carnavalesca, porém, avessa à
cegueira cultural do poder público, antagônica ao atrasado e maledicente
fundamentalismo religioso e político, cerceador das liberdades.
Viva a
Banda, viva o carnaval, viva a cultura popular! E neste sábado, livre, travessa
e traquina, menina levada e faceira, temperada com pimenta, lá vai a Banda. Ela
não é o diabo que pintam, mas é o cão chupando manga!
(*)
tatadeportovelho@gmail.com
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