O
telegrafista da FAB no tempo do aeroporto Caiari
Antão começa a conversa,
lembrando do seu sogro Deroche Pequeno Franco. “A turma fazia muita brincadeira
com ele. Acontece que de vez em quando ele atuava como fotografo e certa vez,
foi contratado para cobrir o velório de uma pessoa da alta sociedade e na hora
de fotografar o defunto, a turma contava que ele enquadrou a câmera, olhou para
o defunto e falou: Não se mexa”.
Sargento Antão foi muito
envolvido com as coisas que aconteciam no aeroporto Caiari inclusive, por muito
tempo, atuou como secretário do Aeroclube de Porto Velho, Telegrafista da FAB
junto com a equipe dava suporte as Companhias Aéreas particulares como Panair
do Brasil, Cruzeiro do Sul e Paraense. Casado há mais de 50 anos com dona Maria
filha do seu Deroche, Antão curte a aposentaria na tranquilidade de sua
residência nas proximidades do Palácio Rio Madeira - CPA.
Vamos às histórias do
sargento Antão!
ENTREVISTA
Zk – Vamos falar sobre sua
origem?
Antão – Meu nome é Antão
Gomes de Oliveira, nasci numa cidade do interior do Rio Grande do Norte –
Parelhas, no dia 17 de janeiro, hoje estou com 80 anos de idade. Quando chegou
à idade de servir as Forças Armadas me alistei na Aeronáutica e fui servir em
Natal, isso em janeiro de 1957, no mês de abril abriu o curso de Cabo e eu fui
fazer em Recife e quando terminei, voltei pra Natal, foi quando fui fazer o
curso de Sargento no Rio de Janeiro, o inicio do curso foi mais ou menos em
julho, foram formados 100 sargentos e os primeiros colocados, tinham direito de
escolher o local aonde gostariam de servir. Eu queria servir em Natal ou outra
cidade do Nordeste, porém, não tinha vaga. Surgiram três vagas para a região
Norte a primeira foi para Porto Velho na época capital do Território Federal de
Rondônia e eu me inscrevi para essa vaga.
Zk – E a reação da tropa?
Antão – Você tá ficando
doido, vai pro meio dos índios, lá as feras andam no meio da cidade. Não
importa, vou pra la assim mesmo, respondia. O oficial que estava fazendo a
seleção, ainda perguntou, você quer mesmo ir pra Porto Velho? Quero sim! Vim
pra ficar apenas seis meses substituindo o Aristodemo e estou aqui até hoje.
Zk – O cargo era de
telegrafista?
Antão – Era, porém, como aqui
não tinha Torre de Controle à gente atuava também como Controlador de Vôo.
Nossa Base vamos dizer, ficava numa Casa onde hoje é a EMATER na Farquar, o
aeroporto era onde hoje fica o Palácio Rio Madeira – CPA. Na realidade a pista
do Campo de Aviação (tinha 1200 metros) começava onde hoje é o Ginásio Claudio
Coutinho e terminava aqui no CPA. A sede ou estação de passageiros, era mais ou
menos em frente ao portão do estádio Aluizio Ferreira da avenida Farquar.
Zk – É verdade que naquele
tempo, para se chegar ao Rio de Janeiro levava dois dias?
Antão – É verdade! Tinha o
vôo Acre-1 que fazia a seguinte rota: Porto Velho, Guajará Mirim, Forte
Príncipe da Beira, Vila Bela, Cárcere e pernoitava em Cuiabá no dia seguinte,
saia para Campo Grande, Três Lagoas, São Paulo e Rio de Janeiro
Zk – Lembro que a FAB fazia
uma lista com nomes de pessoas da cidade para irem de graça nesses vôos. Como
funcionava essa seleção?
Antão – Existia inclusive,
um convênio com o governo do Território: O governo hospedava a tripulação no
Porto Velho Hotel e como contra partida a FAB destinava uma cota de seis
passageiros por vôo. Por algum tempo essa seleção ou o embarque dos que
solicitavam passagem ficou sob minha responsabilidade. Além do vôo Acre-1 tinha
o vôo Acre-2 que fazia a seguinte rota: Rio de Janeiro, Belo Horizonte e
pernoitava em Cuiabá no dia seguinte: Cuiabá, Vilhena, Vila de Rondônia (Ji
Paraná) e Porto Velho. Esses vôos eram muito concorridos, primeiro porque a
região era muito carente de médicos e como já disse, na tripulação vinha um
médico para atender a população.
Zk – Era no tempo que o
melhor hospital era embarcar num avião rumo aos grandes centros?
Antão – Eu mesmo tive um
filho que quebrou a clavícula e como aqui não tinha ortopedista o embarquei
para o Rio de Janeiro para que ele fosse submetido à cirurgia. Em outra ocasião
minha filha teve um problema na vista e como aqui não existia oftalmologista o
Dr. Macedo na realidade Capitão Macedo, recomendou que a levássemos para um
local com esse atendimento.
Zk – Na lista de passageiros
da FAB sempre constava o nome de pessoas que tinham posse e mesmo assim,
queriam viajar de graça, eram os “categas” do bairro Caiari. Como vocês faziam
para atender essas pessoas?
Antão – Quando eu estava
respondendo pelo Correio Aéreo Nacional – CAN e quando o avião saia de Rio
Branco pra cá, eu solicitava do telegrafista de lá que informasse quantas vagas
estavam disponíveis para o Rio de Janeiro, tantas pra Cuiabá e assim
sucessivamente. Nesse intervalo eu fazia a relação e sempre tinha mais
inscritos que o número de vagas e então, procurava dar prioridade às pessoas
carentes. Eu saia da sala do CAN dava a volta la pros trás e ficava observando
as pessoas na fila e aquela que eu via que realmente era carente, de possa da
lista chamava: você pode embarcar. Assim conseguia selecionar os que realmente
precisavam.
Zk – Fala sobre o trabalho
dos telegrafistas da FAB?
Antão – A gente ajudava
muito as pessoas da cidade, a comunicação aqui era precária e a maioria dos
funcionários e mesmo pessoas comuns que moravam aqui, tinham suas famílias em
outros estados e precisavam mandar e receber notícias e então, muitas vezes essas
pessoas nos procuravam para enviar telegramas aos seus familiares.
Zk – Qual era a equipe no
teu tempo?
Antão – Era eu, sargento
Oliveira, Joel que casou com a Neire Azevedo carnavalesca da escola de samba
Diplomatas e o Flávio Daniel que também foi da escola de samba Caiari. A gente
fazia parte da equipe do Serviço de Proteção ao Vôo e inclusive dava suporte
para as Companhias privadas como Panair, Cruzeiro e Paraense.
Zk – Aconteceu algum
problema de queda de avião no seu tempo de telegrafista da FAB?
Antão – Teve! Um dia eu
estava em contato com um avião da FAB que estava voando de Forte Príncipe para
Guajará Mirim e eles mandaram uma mensagem solicitando reserva de hotel porque iriam
pernoitar em Porto Velho. Daqui a pouco recebo outra mensagem com eles pedindo
socorro, pois um dos motores da aeronave havia parado e iam fazer um pouso de
emergência. O telegrafista avisou que iria se proteger porque estavam caiando
na mata, isso era cinco e meia da tarde (17h30), de imediato acionei o Serviço
de Busca e Salvamento que seguiu para Guajará Mirim. Nesse acidente morreram
quatro pessoas, dois militares e dois civis e tiveram muitos feridos que foram
levados para os hospitais de Guajará.
Zk – É verdade que às vezes
a pista do aeroporto do Caiari era balizada pelos faróis dos carros?
Antão – Isso aconteceu
várias vezes. Um vôo atrasava e chegava à noite e como a pista não tinha
balizamento (iluminação específica), a gente solicitava via Rádio Caiari que os
proprietários de veículos se dirigissem a pista do aeroporto para fazer baliza
para aquela avião que estava sobrevoando a cidade pudesse pousar. Praticamente
todo mundo que tinha carro ia pra lá.
Zk – Hoje você é da reserva?
Antão – Trabalhei durante 35
anos como telegrafista da Força Aérea Brasileira como sargento, fui pra reserva
no posto de suboficial.
Zk – Como foi que você
conheceu dona Maria sua esposa até hoje?
Antão – A gente morava no
Porto Velho Hotel e lá sempre tinha as festinhas na famosa Varanda Tropical e
certo dia, vi aquela morena bonita que estava com outras jovens, pensei, ela
deve ser filha de algum “catega” do Caiari fui tirá-la pra dançar, assim
começou nosso namoro que terminou em casamento. Já fizemos bodas de ouro. Temos
quatro filhos dois homens e duas mulheres.
Zk – Para encerrar. Brincou
muito carnaval?
Antão – Cheguei aqui
numa terça feira de carnaval e a noite, fui brincar carnaval no Bancrévea.
Frequentei muito o Ypiranga e o Ferroviário. Naquele tempo o carnaval em Porto
Velho era muito bom.
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