A
cantora Dona
Ivone Lara
morreu na noite da
última segunda-feira
(16), no Rio de Janeiro, por conta de um quadro de insuficiência
cardiorrespiratória. Ela estava internada desde sexta-feira (13),
data em que completou 96 anos, no Centro de Tratamento e Terapia
Intensiva (CTI) da Coordenação de Emergência Regional (CER), no
Leblon, na Zona Sul da cidade.
"Ela
estava sempre procurando um caderninho pra escrever uma música,
estava sempre cantarolando pro neto. Até a última semana ela estava
superbem, com a cabeça ótima. Ela estava muito fraquinha, mas a
cabeça estava ótima", contou a nora Eliana Lara
Martins da Costa.
Segundo
o colunista Mauro Ferreira, Dona Ivone Lara morreu
aos 96 anos e não aos 97 anos, como informam quase todas as
fontes, pois nasceu em 1922, não em 1921. A data de 1921 foi forjada
pela mãe da artista em 1932 para que ela pudesse ser admitida em
colégio interno, cuja idade mínima para o ingresso era 11 anos.
Essa questão já foi esclarecida na biografia de Ivone.
A
vida de Dona Ivone Lara
Dona
Ivone Lara nasceu na Rua Voluntários da Pátria, em Botafogo, Zona
Sul do Rio. Foi a primeira filha da união entre a costureira
Emerentina Bento da Silva e José da Silva Lara. Paralelamente ao
trabalho, ambos tinham intensa vida musical: ele era violonista de
sete cordas e desfilava no Bloco dos Africanos; ela era ótima
cantora e emprestava sua voz de soprano a ranchos carnavalescos
tradicionais do Rio, como o Flor do Abacate e o Ameno Resedá — nos
quais Seu José também se apresentava.
Formada
em Enfermagem e Serviço Social, com especialização em Terapia
Ocupacional, Ivone Lara foi uma profissional na área até se
aposentar em 1977.
Com
a morte do pai quando Ivone tinha 3 anos, e da mãe, aos 12, ela foi
criada pelos tios e com eles aprendeu a tocar cavaquinho e a ouvir
samba, ao lado do primo Mestre Fuleiro; teve aulas de canto com
Lucília Villa-Lobos e recebeu elogios do marido dela, o maestro
Heitor Villa-Lobos.
Casou-se
aos 25 anos com Oscar Costa, filho de Alfredo Costa, presidente da
escola de samba Prazer da Serrinha, com quem teve dois filhos,
Alfredo e Odir. Foi no Prazer da Serrinha onde conheceu alguns
compositores que viriam a ser seus parceiros em algumas composições,
como Mano Décio da Viola e Silas de Oliveira.
Império
Serrano
Com
a fundação do Império Serrano, em 1947, passou a desfilar na ala
das baianas. Dona Ivone Lara também compôs o samba “Não
me perguntes”, mas a consagração veio em 1965, com "Os
cinco bailes da história do Rio”, quando se tornou a
primeira mulher a fazer parte da ala de compositores de escola de
samba.
Entre
os intérpretes que gravaram suas composições destacam-se Clara
Nunes, Roberto Ribeiro, Maria Bethânia, Caetano Veloso, Gilberto
Gil, Paula Toller, Paulinho da Viola, Beth Carvalho, Mariene de
Castro, Roberta Sá, Marisa Monte e Dorina.
'Dona'
Não
basta chamá-la apenas de Ivone Lara: o respeito e a admiração que
impôs à MPB a transformaram em Dona Ivone Lara.
A
sambista também teve trabalhos como atriz, fazendo filmes, e foi a
Tia Nastácia em especiais do "Sítio do Pica-pau Amarelo".
Em
2008, Dona Ivone interpretou a canção “Mas
quem disse que eu te esqueço”
no projeto Samba Social Clube. A faixa foi incluída, no ano
seguinte, numa coletânea com as melhores performances do projeto.
Homenagens
No
ano de 2012, foi homenageada pelo Império Serrano, no Grupo de
Acesso, com o desfile "Dona Ivone Lara: o enredo do meu
samba".
Em
2010, foi a homenageada na 21ª edição do Prêmio da Música
Brasileira. Em 2014, foi tema da 19ª edição do Trem do Samba, em
dezembro de 2014. Um mês antes, Dona Ivone participou do primeiro
dia de gravações do "Sambabook" em celebração à sua
carreira da gravadora Musickeria.
Cantores
como Maria Bethânia, Elba Ramalho, Criolo, Zeca Pagodinho, Martinho
da Vila, Arlindo Cruz, Adriana Calcanhoto e Zélia Duncan fizeram
versões de suas canções, enquanto a própria gravou com Diogo
Nogueira uma canção inédita, composta com seu neto André.
Em
2015, entrou para a lista 10 Grandes Mulheres que Marcaram a História
do Rio.
Dona
Ivone Lara foi a maior compositora do samba e da música brasileira.
Nenhuma outra mulher teve tantas vozes cantando suas músicas ou
gravadas como ela.
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