Da
Banda Máxima À Malhação e Gaby Amarantos
Entre os anos de 1998 e 2000
Carlinhos Moreno morou em Porto Velho como integrante da Banda Máxima criada
pelo Luizinho – Buda, cuja maioria dos músicos era cariocas. Depois de alguns
anos Carlinhos encontra-se novamente em Porto Velho onde pretende ficar por
algum tempo, já que está iniciando o Projeto que agrega samba com música
sertaneja que será apresentado na casa de Shows Mandacaru em breve.
Sábado passado, ou seja,
ontem dia 03, Carlinhos se apresentou na Feijoada do Mirante Madeira, porém,
antes de subir ao palco nos concedeu entrevista na qual entre outras coisas,
revela que a disputa de samba enredo nas escolas do Rio de Janeiro é coisa de
louco. “Em 2010 participei junto com parceiros, da disputa do Salgueiro e de
outra vez, cheguei à finalíssima na Caprichoso de Pilares. Quando fui comprar
uma água mineral nos ambulantes de fora da quadra, os caras diziam que estava
tudo vendido. Era os concorrentes me boicotando. Achei aquilo um absurdo e não
quero mais voltar a disputar samba enredo, é muito perigoso”. Segundo
Carlinhos, tudo isso é provocado pela premiação do samba vencedor, que muitas
vezes, ultrapassa os 500 Mil Reais.
ENTREVISTA
Zk – Vamos começar com sua
identificação?
Carlinhos Moreno – Meu nome
é Carlos César Machado de Oliveira nascido na Comunidade Favela do Guarda em
Del Castilho no Rio de Janeiro. Na comunidade ao lado foi criado comigo Xande,
Sergio Rufino e o Arthur Luis todos do grupo Revelação, atravessando a linha do
trem morava o Zeca Pagodinho.
Zk – E como foi realmente o
teu contato com o samba?
Carlinhos Moreno – Quando
estava com 12/13 Minha mãe era decoradora de alegorias, trabalhou na Imperatriz
Leopoldinense e depois virou chefe do barracão da Mangueira e pra gente que era
moleque de comunidade, não ficar jogado na rua, ela nos levava pro barracão.
Muitas vezes a gente virava trabalhando e dormia embaixo do carro alegórico.
Zk – E o compositor quando
surgiu?
Carlinhos Moreno – Na verdade,
quando criança, minha mãe achava que eu tinha problema psicológico, não era
nada disso, é que eu já era compositor, isso estava dentro de mim, tinha minhas
idéias, escrevia nas paredes, não podia ver um papel que queria escrever. Enquanto
a galera jogava futebol eu ficava num canto pensando e escrevendo. Quando chegaram
meus 15 anos, o Ronaldo Chagas – Ratão que ensinou harmonia pro Xande de
Pilares chegou e instigou faz uma letra aí moleque, fiz e ele colocou a
melodia, achei a coisa mais linda do mundo, veio uma amiga do Ronaldo que
tocava piano cantou e era uma música romântica. Tomei gosto pela coisa e passei
a compor cada vez mais. O Sidney de Moraes foi o cara que conseguiu me tirar da
comunidade.
Zk – Como é morar em
comunidade?
Carlinhos Moreno – Quando a
gente mora em comunidade a influencia do mal é muito forte. Você não consegue
separar o joio do trigo, é todo mundo junto, porém, sempre existe uma galera
que é do bem e a gente fica se espelhando no mais velho. Quando a gente ia pro
campinho jogar bola passava pela casa do Sidney e la estava ele tocando
cavaquinho e eu ficava na janela dele olhando, até que um dia ele me convidou a
entrar e passou a me ensinar os tons (tocar cavaquinho), aí a coisa mudou
porque quando eu ia mostrar a música prum parceiro já chegava com a idéia da
harmonia, apesar de nunca ter me tornado num exímio músico, facilitava para o
parceiro que transformava aquilo realmente em música.
Zk – E a primeira música
gravada de verdade?
Carlinhos Moreno – Eu
escrevia muito com o falecido Riquinho que foi um grande compositor que fez
muito sucesso com o Exalta Samba, Ki Loucura, Moleque Maroto etc., a gente era
muito ligado e eu já cantava no Ríver e no Sambola que na década de 1990, era a
maior Roda de Samba que existia no Rio de Janeiro. Deixa contar com consegui
entrar no Ríver.
Zk – Vamos lá?
Carlinhos Moreno – Existia
um cara que era um figurasso que cantava muito Partido Alto era o Joãozinho do
Pagode, que era da mesma comunidade que eu e sempre me via tocando e cantando. Ele
chegou comigo: Caca tu canta mesmo? Vou te levar no Ríver mais se te vaiarem tu
finge que não me conhece. E me levou mesmo. Quando entrei no Ríver e vi aquela
estrutura, aquele mundo de salão falei: Meu Deus do Céu, mais de duas mil
pessoas e todas bem vestidas chic mesmo, na época a casa era freqüentada por
jogadores de futebol, artistas e o Joãozinho falou com Jairo (diretor da casa)
a meu respeito e ele mandou eu voltar no próximo domingo. Fiquei todo empolgado
comprei até uma roupinha nova e quando chegou o domingo procurei o Joãozinho e
lembrei, vamos lá no Ríver e ele disse que não poderia ir porque estava
passando mal. Fui sozinho e ao chegar o Jairo perguntou pelo Joãozinho e eu
disse que ele estava doente, o cara ficou meio cabreiro, mas, mesmo assim me
chamou pra cantar. Cantei três músicas. Quando desci do palco veio um senhor
cabeça branca muito sério: “Garoto qualé o teu nome?” – Carlos! “Então ta
Carlinhos agora tu ta no nosso esquema, domingo que vem você vai cantar” e me
deu cinqüenta reais. Quando chego na comunidade ta o Joãozinho numa cadeira de
praia sentado com um copo de café e o cigarro na mão: Ô, você não estava
passando mal? – Como é que foi lá? Tu não acabou com minha reputação não, pelo
amor de Deus! Olha aqui e mostrei a grana pra ele, fui foi contratado
Joãozinho.
Zk – E o nome Carlinhos
Moreno surgiu como?
Carlinhos Moreno – Quando
chegou o domingo estava no Ríver e o locutor anunciou, com vocês a mais nova
revelação da casa, Carlinhos Moreno e eu lá sem saber o que estava acontecendo,
o cara anunciou de novo: Com vocês Carlinhos Moreno e foi então que chegou
comigo uma pessoa que disse: Tu não vai cantar não? Se não cantar não recebe!
Sou eu que ele está chamando? É! A partir daquele dia passei a ser o Carlinhos
Moreno.
Zk – Você conseguiu emplacar
uma música na novela Malhação. Como aconteceu o convite?
Carlinhos Moreno – O
Pedrinho do Cavaco é um garoto que vem batalhando desde criança e ele fez um
teste como ator para a novela Malhação e passou e eu e o Caca estávamos muito
ligados, pois a música gravada pelo Boca Loka era nossa e o Cacá era quem
produzia o Pedrinho e pintou a oportunidade de colocar uma música na novela,
porém esse caso foi muito pitoresco porque ele chegou comigo e falou: Carlinhos
a gente tem que entregar uma música amanhã as oito horas, isso era seis horas
da tarde. Eu morava no Flamengo. Comecei a colocar minhas idéias e o Caca é
muito bom de melodia. Sete horas da manhã peguei um táxi e me mandei pra casa
do Caca no Lins nesse dia, a esposa dele Verinha estava trabalhando e tinha um
filho de dois anos e o garotinho chutava uma bola em mim, acho que ele vai ser
um craque de futebol e eu escrevendo e ele chutando a bola, quando o Lukinha
falou gol! Eu disse, Caca terminei a música. Enviamos pro Pedrinho pelo wats e
ele mostrou pro diretor da novela. Resultado a Música “Revanche” entrou e eu
ainda fui convidado pela produção para fazer o bekinvocal.
Zk – Depois você colocou
outra música em novela na voz da Gaby Amarantos. Como foi?
Carlinhos Moreno – Mais uma
vez o Pedrinho entra na história. Acontece que ele é afilhado de batismo do
famoso cantor Milton Nascimento. Certo dia, estávamos almoçando um franguinho com
quiabo e também estava o Caca, derrepente Pedrinho recebe um watts. “Pedrinho
precisamos de uma música agora pra Gaby Amarantos e foi logo passando o tema”.
O Milton tem um estúdio super moderno, fomos pro estúdio e fizemos a música,
enviamos pra Gaby pelo watts e ela gostou, colocou uns versos dela e a música
foi uma loucura. O nome é “Gaby Ostentação”.
Zk – Você também enveredou
pela composição de musica sertaneja?
Carlinhos Moreno –. Como
disse, uma coisa puxa a outra, a Gaby era do escritório do Ricardo que foi o
cara que descobriu Luan Santana e como a gente estava de parceria o escritório
ligou pedindo que a gente fosse pra São Paulo pra compor pro Henrique Lemes. No
outro dia de manhã os caras estavam na porta do hotel perguntando pelas músicas,
mostrei a primeira “Loucura, loucura” eles gostaram, resultado, entramos com
três musicas no EP do garoto. Agora produzi o Sambanejo do Daniel que é filho
Bartô Galeno. O Bartozinho que é o mais velho, ta gravando um disco e a “Grande
Alegria” que é a música de trabalho, é minha em parceria com o pai dele Bartô
Galeno e o Daniel. É um brega chamado: “Toca aí no Toca Fita”.
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