REGISTRO HISTÓRICO

sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Forro da Luzia de Manicoré para Porto Velho


A repórter Yalle Dantas da RedeTV-RO, recentemente cumpriu pauta no município amazonense de Manicoré onde gravou uma série de matérias contando a história da “Cidade dos Bacuraus”. A matéria foi divulgada na TV e em página espelhada no jornal Diário da Amazônia.
Em suas andanças pela terra dos “Bacuraus”, Yalle conheceu a dona Luzia da Silva Prestes. “A cultura viva de Manicoré” como diz Evandro Reis. Dona Luzia há 46 anos realiza o “Forró da Luzia”, evento que faz parte do calendário cultural de Manicoré. Em virtude de aproximadamente Dez Mil manicoreenses viverem em Porto Velho, Evandro juntamente com o Emerson filho de dona Luzia, há Seis anos, passaram a promover o “Forró da Luzia” na capital de Rondônia. “Só não é igualzinho o de lá, porque aqui a festa é realizada em ambiente fechado e lá é no meio da rua”.
Os organizadores da festa em Porto Velho trouxeram dona Luzia e a Yalle fez questão que eu a conhecesse. Domingo passado, numa conversa regada a “Tambaqui Assado de Panela”, dona Luzia me contou como surgiu o “Forró da Luzia”

ENTREVISTA

ZK – Vamos para a identificação?
Dona Luzia - Meu nome é Luzia da Silva Prestes nasci em Humaitá, filha de Olegário da Silva Prestes e Juliana Figueiredo da Silva. Estou com 77 anos de idade. Sou amazonense da gema. Estudei onze anos no colégio das irmãs Salesianas “Patronato Maria Auxiliadora” de Humaitá me formei professora em 1962 e fui lecionar no município de Manicoré onde moro até hoje.
Zk – Conte como surgiu o famoso Forró da Luzia?
Dona Luzia – Em 1969 fui fazer um treinamento em Manaus para atuar como professora do Mobral, quando voltei pra Manicoré fui nas casas procurar alunos interessados em fazer o Mobral e consegui 52 alunos, então fui dar aula numa capelinha de madeira no bairro Santa Luzia e quando chegou o mês de junho fiquei perturbada porque em Manicoré não existia nenhuma festa folclórica. Então perguntei aos alunos o que fazer para festejar Santo Antonio, São João e São Pedro e eles responderam: a senhora e que sabe! Então propus, que tal um forrozinho e todos concordaram. Faltava o local para fazer a festa, sugerir que fosse em frente a Capela onde aconteciam as aulas e eles disseram: Não dona Luzia, queremos que seja em frente a sua casa.
Zk – Aí nasceu o Forró da Luzia?
Dona Luzia – Concordei com eles e fizemos em Santo Antonio, São João e São Pedro. Os homens foram no mato tirar madeira e fizeram o salão, depois fomos com o prefeito que na época era o Helio de Oliveira e conseguimos apoio para fazer as bandeirinhas e comprar foguete porque sem foguete a festa não presta.
Zk – E o prefeito foi à festa?
Dona Luzia – Não só ele, mas, os vereadores, delegado, promotor, juiz de direito e todas as autoridades e é claro o povo de Manicoré. As mulheres alunas levaram tacaca, arroz doce, pato no tucupi enfim todas as comidas típicas da região, os homens preparam a caipirinha e a festa varou a madrugada na noite de cada Santo.

Zk – E a música foi ao vivo?
Dona Luzia – Naquele tempo não tinha nenhum conjunto na cidade e então conseguimos a eletrola do senhor conhecido como Calça Larga. O padre Ricardo que era o presidente do Mobral também foi. Mandei fazer uma faixa com a frase: “Estamos ajudando a construir um novo Brasil – Forró do Mobral”. As irmãs Salesianas participaram também. A entrada ou o inicio do forró contou com a participação do casal de índios seu Manelito e dona Raimundo que fizeram um ritual utilizando arco e flecha. Entra o Rei e a Rainha do Forró e logo depois começou a festa pra valer com a música: ‘É fogo é brasa, é lenha na fogueira, o pessoal em casa prepara a fogueira, meu amor eu vou, me dar teu coração, quero ver que passa a noite de São João’. A primeira foi até quatro horas, a segunda até as cinco horas e a terceira até as sete horas da manhã.
Zk – E agora até que horas vai a festa?
Dona Luzia – Ultimamente tem vez que vai até dez horas da manhã. Se o dia do santo cair no meio da semana não tem problema, o prefeito decreta feriado no outro dia. Hoje o Forró faz parte do calendário das festas folclóricas do município de Manicoré. São 46 anos do “Forro da Luzia”.
Zk – Quantos anos a senhora tinha, quando chegou em Manicoré. Já foi casada?
Dona Luzia – Quando fui pra lá estava com 26 anos, ainda não era casada, fui como professora, só que no mesmo ano que cheguei me casei com o Aristotalino da Fonseca Reis o Totó com quem tive seis filhos.

Zk – Como foi que a senhora resolveu realizar o Forro da Luzia em Porto Velho?
Dona Luzia – Acontece que aqui em Porto Velho moram muitos “Bacuraus” entre eles, o maior goleiro que Rondônia já conheceu que é o Evandro Reis e o meu filho Emerson que trabalha no Banco do Brasil. Eles criaram a Associação dos “Bacuraus” e então trouxeram o Forró da Luzia pra cá. O Evandro que tem uma força grande junto à sociedade de Porto Velho e é um baluarte na divulgação da cultura de Manicoré é quem nos dar a maior força na realização do evento, ele e meu filho.
Zk – Quais as festas tradicionais de Manicoré?
Dona Luzia – Além do Forró da Luzia, as Quadrilhas são muito fortes. Tem a “Dança do Bacurau”, a “Dança da Melancia”, “Dança da Mulher Rendeira”, “Dança do Tipiti”. O importante é que essas manifestações são todas de graça para o povo e olha que se apresentam bandas de fora e até artistas de renome nacional já foi lá e tudo é de graça.
Zk – Além de professora e organizadora do forró, quais outras funções a senhora já exerceu?
Dona Luzia – Fui vereadora, primeira mulher presidente da Câmara, fui presidente do Mobral, vice-diretora do colégio estadual Hermenegildo de Campos.
Zk – Como é desenvolvida a Dança do Bacurau?
Dona Luzia – É tipo Carimbó. A música de entrada é assim: “No mês de junho, o Bacurau saiu a passear, pelas ruas da cidade, La Lara La, La ia”. E o Bacurau vai na frente e aquela dança atrás é muito lindo! A dança da Melancia também é muito bonita, eles dançam agora na Expomani.
Zk – Me disseram que a senhora também é compositora. Cante uma música de sua autoria?
Dona Luzia – Fiz a música do Centenário de Manicoré cuja letra é a seguinte: Manicoré altaneira, a princesa das matas de pé, tua terra fecunda tua gente, para o grande certame da fé! Um centenário hoje está de parabéns... Também fiz o hino do Amazonas Esporte Clube: Amazonas, Amazonas. Amazonas do meu coração. Amazonas, Amazonas, tu tens fibra de campeão...
Zk – Vamos voltar ao Forró da Luzia que vai acontecer neste sábado em Porto Velho. Qual a banda que vai tocar?
Dona Luzia – Olha, costumamos trazer a mesma Banda que toca no Forró de Manicoré, justamente para os nossos conterrâneos matarem a saudade da terrinha. Essa banda de Manicoré vai iniciar a festa e quando for meia noite, a gente canta o Hino de Manicoré e o Hino de Rondônia. A segunda banda é de Manicoré também só que os meninos moram há muito tempo em Porto Velho, é a San Country.
Zk – É verdade que a senhora é eximia cozinheira. Qual sua receita preferida?
Dona Luzia – É o Tambaqui Assado de Panela. Corta o tambaqui em pedaços grandes, em especial a parte da costela e o lombo. Pega põe no limão mais ou menos por uma hora, depois escalda e prepara com muito cheiro verde, pimenta cheirosa, azeite português, tomate, cebola, alho, pimenta do reino com cominho, faz aquele molho bem gostoso com um pouco de pomarola e põe pra refogar. Não põe muito água elevai cozinhar naquele molho. Tem que ser Tambaqui Nativo grande.
Zk – Para encerrar vamos divulgar o Forró da Luzia que vai acontecer neste sábado dia 08 em Porto Velho?
Dona Luzia – A mesa custa R$ 50. Vai ser neste sábado dia 08 no Mirante Dois e Meio na Arigolândia. O forró vai começar as 22 horas. Vamos pro Forró da Luzia minha gente Bacurau!

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