A
repórter Yalle Dantas da RedeTV-RO, recentemente cumpriu pauta no município
amazonense de Manicoré onde gravou uma série de matérias contando a história da
“Cidade dos Bacuraus”. A matéria foi divulgada na TV e em página espelhada no
jornal Diário da Amazônia.
Em
suas andanças pela terra dos “Bacuraus”, Yalle conheceu a dona Luzia da Silva
Prestes. “A cultura viva de Manicoré” como diz Evandro Reis. Dona Luzia há 46
anos realiza o “Forró da Luzia”, evento que faz parte do calendário cultural de
Manicoré. Em virtude de aproximadamente Dez Mil manicoreenses viverem em Porto
Velho, Evandro juntamente com o Emerson filho de dona Luzia, há Seis anos,
passaram a promover o “Forró da Luzia” na capital de Rondônia. “Só não é igualzinho o de lá, porque aqui a
festa é realizada em ambiente fechado e lá é no meio da rua”.
Os
organizadores da festa em Porto Velho trouxeram dona Luzia e a Yalle fez
questão que eu a conhecesse. Domingo passado, numa conversa regada a “Tambaqui
Assado de Panela”, dona Luzia me contou como surgiu o “Forró da Luzia”
ENTREVISTA
ZK –
Vamos para a identificação?
Dona
Luzia - Meu nome é Luzia da Silva Prestes nasci em Humaitá, filha de Olegário
da Silva Prestes e Juliana Figueiredo da Silva. Estou com 77 anos de idade. Sou
amazonense da gema. Estudei onze anos no colégio das irmãs Salesianas
“Patronato Maria Auxiliadora” de Humaitá me formei professora em 1962 e fui
lecionar no município de Manicoré onde moro até hoje.
Zk –
Conte como surgiu o famoso Forró da Luzia?
Dona
Luzia – Em 1969 fui fazer um treinamento em Manaus para atuar como professora
do Mobral, quando voltei pra Manicoré fui nas casas procurar alunos
interessados em fazer o Mobral e consegui 52 alunos, então fui dar aula numa capelinha
de madeira no bairro Santa Luzia e quando chegou o mês de junho fiquei
perturbada porque em Manicoré não existia nenhuma festa folclórica. Então
perguntei aos alunos o que fazer para festejar Santo Antonio, São João e São
Pedro e eles responderam: a senhora e que sabe! Então propus, que tal um
forrozinho e todos concordaram. Faltava o local para fazer a festa, sugerir que
fosse em frente a Capela onde aconteciam as aulas e eles disseram: Não dona
Luzia, queremos que seja em frente a sua casa.
Zk – Aí
nasceu o Forró da Luzia?
Dona
Luzia – Concordei com eles e fizemos em Santo Antonio, São João e São Pedro. Os
homens foram no mato tirar madeira e fizeram o salão, depois fomos com o
prefeito que na época era o Helio de Oliveira e conseguimos apoio para fazer as
bandeirinhas e comprar foguete porque sem foguete a festa não presta.
Zk – E
o prefeito foi à festa?
Dona
Luzia – Não só ele, mas, os vereadores, delegado, promotor, juiz de direito e
todas as autoridades e é claro o povo de Manicoré. As mulheres alunas levaram
tacaca, arroz doce, pato no tucupi enfim todas as comidas típicas da região, os
homens preparam a caipirinha e a festa varou a madrugada na noite de cada
Santo.
Zk – E
a música foi ao vivo?
Dona
Luzia – Naquele tempo não tinha nenhum conjunto na cidade e então conseguimos a
eletrola do senhor conhecido como Calça Larga. O padre Ricardo que era o
presidente do Mobral também foi. Mandei fazer uma faixa com a frase: “Estamos
ajudando a construir um novo Brasil – Forró do Mobral”. As irmãs Salesianas
participaram também. A entrada ou o inicio do forró contou com a participação
do casal de índios seu Manelito e dona Raimundo que fizeram um ritual
utilizando arco e flecha. Entra o Rei e a Rainha do Forró e logo depois começou
a festa pra valer com a música: ‘É fogo é brasa, é lenha na fogueira, o
pessoal em casa prepara a fogueira, meu amor eu vou, me dar teu coração, quero
ver que passa a noite de São João’. A primeira foi até quatro horas, a
segunda até as cinco horas e a terceira até as sete horas da manhã.
Zk – E
agora até que horas vai a festa?
Dona
Luzia – Ultimamente tem vez que vai até dez horas da manhã. Se o dia do santo
cair no meio da semana não tem problema, o prefeito decreta feriado no outro
dia. Hoje o Forró faz parte do calendário das festas folclóricas do município
de Manicoré. São 46 anos do “Forro da Luzia”.
Zk –
Quantos anos a senhora tinha, quando chegou em Manicoré. Já foi casada?
Dona
Luzia – Quando fui pra lá estava com 26 anos, ainda não era casada, fui como
professora, só que no mesmo ano que cheguei me casei com o Aristotalino da
Fonseca Reis o Totó com quem tive seis filhos.
Zk –
Como foi que a senhora resolveu realizar o Forro da Luzia em Porto Velho?
Dona
Luzia – Acontece que aqui em Porto Velho moram muitos “Bacuraus” entre eles, o
maior goleiro que Rondônia já conheceu que é o Evandro Reis e o meu filho
Emerson que trabalha no Banco do Brasil. Eles criaram a Associação dos “Bacuraus”
e então trouxeram o Forró da Luzia pra cá. O Evandro que tem uma força grande
junto à sociedade de Porto Velho e é um baluarte na divulgação da cultura de
Manicoré é quem nos dar a maior força na realização do evento, ele e meu filho.
Zk –
Quais as festas tradicionais de Manicoré?
Dona
Luzia – Além do Forró da Luzia, as Quadrilhas são muito fortes. Tem a “Dança do
Bacurau”, a “Dança da Melancia”, “Dança da Mulher Rendeira”, “Dança do Tipiti”.
O importante é que essas manifestações são todas de graça para o povo e olha
que se apresentam bandas de fora e até artistas de renome nacional já foi lá e
tudo é de graça.
Zk –
Além de professora e organizadora do forró, quais outras funções a senhora já
exerceu?
Dona
Luzia – Fui vereadora, primeira mulher presidente da Câmara, fui presidente do
Mobral, vice-diretora do colégio estadual Hermenegildo de Campos.
Zk –
Como é desenvolvida a Dança do Bacurau?
Dona
Luzia – É tipo Carimbó. A música de entrada é assim: “No mês de junho, o Bacurau saiu
a passear, pelas ruas da cidade, La Lara La, La ia”. E o Bacurau vai na
frente e aquela dança atrás é muito lindo! A dança da Melancia também é muito
bonita, eles dançam agora na Expomani.
Zk –
Me disseram que a senhora também é compositora. Cante uma música de sua autoria?
Dona
Luzia – Fiz a música do Centenário de Manicoré cuja letra é a seguinte: Manicoré
altaneira, a princesa das matas de pé, tua terra fecunda tua gente, para o
grande certame da fé! Um centenário hoje está de parabéns... Também fiz
o hino do Amazonas Esporte Clube: Amazonas, Amazonas. Amazonas do meu coração.
Amazonas, Amazonas, tu tens fibra de campeão...
Zk –
Vamos voltar ao Forró da Luzia que vai acontecer neste sábado em Porto Velho.
Qual a banda que vai tocar?
Dona
Luzia – Olha, costumamos trazer a mesma Banda que toca no Forró de Manicoré,
justamente para os nossos conterrâneos matarem a saudade da terrinha. Essa
banda de Manicoré vai iniciar a festa e quando for meia noite, a gente canta o
Hino de Manicoré e o Hino de Rondônia. A segunda banda é de Manicoré também só
que os meninos moram há muito tempo em Porto Velho, é a San Country.
Zk – É
verdade que a senhora é eximia cozinheira. Qual sua receita preferida?
Dona
Luzia – É o Tambaqui Assado de Panela. Corta o tambaqui em pedaços grandes, em
especial a parte da costela e o lombo. Pega põe no limão mais ou menos por uma
hora, depois escalda e prepara com muito cheiro verde, pimenta cheirosa, azeite
português, tomate, cebola, alho, pimenta do reino com cominho, faz aquele molho
bem gostoso com um pouco de pomarola e põe pra refogar. Não põe muito água elevai
cozinhar naquele molho. Tem que ser Tambaqui Nativo grande.
Zk –
Para encerrar vamos divulgar o Forró da Luzia que vai acontecer neste sábado
dia 08 em Porto Velho?
Dona
Luzia – A mesa custa R$ 50. Vai ser neste sábado dia 08 no Mirante Dois e Meio
na Arigolândia. O forró vai começar as 22 horas. Vamos pro Forró da Luzia minha
gente Bacurau!
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