MARLENE MONTEIRO
Sacerdotisa Yakolecy do
Candomblé em Rondônia
Durante a Conferencia Rio + 20 encontrei a Marlene Monteiro
pessoa que conheço desde os tempos de adolescente, justamente na Tenda
destinada aos que cultuam as Religiões de Matrizes Africanas. Nosso primeiro
encontro aconteceu domingo dia 17 que foi o dia dedicado as Religiões, no
Espaço Cúpula dos Povos. Naquele dia tão logo acabaram as discussões, os
babalorixas, sacerdotes, sacerdotisas, mães, filhas e filhos de santo,
festejaram batendo tambor, cantando e baiando (dançado). Depois, já na terça
feira voltamos a nos encontrar e depois de conversarmos por alguns minutos,
resolvi gravar a história da Marlene Monteiro que agora é a Sacerdotisa Yakolecy dentro da religião
Candomblé e do Ifa. “Ifa tem maior facilidade de globalização. É mais fácil de ser adotado
e tem iniciações mais simplificadas e esta lidando diariamente com a questão da
vida e do destino”. No meio da entrevista ela fez questão de lembrar que faz previsão. Foi então que tomei coragem
e perguntei qual será o candidato que vai ganhar a eleição para prefeito de Porto
Velho? Ela não teve dúvida e respondeu. Respondeu mas nos deixou mais em
dúvida, pois não quis dizer o nome do futuro prefeito da capital rondoniense,
apenas deu uma dica que com certeza, vai servir para os articulistas e os
dirigentes partidários, ficarem de “orelha em pé” para com os nomes colocados
pelos seus partidos a disposição dos eleitores.
Com vocês a Sacerdotisa Yakolecy
ENTREVISTA
Zk – Vamos falar sobre sua história de rondoniense nata?
Marlene – Sou rondoniense nascida na Ilha de Assunção à
margem direita do rio Madeira, batizada como Marlene Monteiro. Minha infância
foi na Praça Aluizio Ferreira, Escola Normal Carmela Dutra e Praça Rondon
esperando a primeira seção do Cine Teatro Reski.
Zk – E o lado espiritual quando foi descoberto?
Marlene – No período de 1968 foi quando eu fui cuidar do meu
lado espiritual. Foi quando fiz minhas obrigações na Umbanda e depois migrei
pro Candomblé por que o problema que eu tinha era pra Vodu.
Zk – Dentro da hierarquia candomblediana a senhora se coloca
em qual nível?
Marlene – Sou Sacerdotisa de Religião de Raízes de Matriz
Africana e faço trabalho espiritual em Porto Velho - Rondônia em minha casa.
Zk – Qual a diferença da Umbanda pro Candomblé?
Marlene – Muito grande. A Umbanda cultua as encantarias, ou
seja, os Caboclos. O Candomblé cultua os Orixás.
Zk – A senhora chegou
a freqüentar os batuques de Santa Bárbara e do São Benedito (Samburucu)?
Marlene – Não freqüentei! Sabia da existência, conhecia, mas,
não freqüentava nem o Batuque de Santa Bárbara e nem o Batuque de São Benedito
que era conhecido também como “Samburucu”, mas sei da história da existência
deles porque tinha contato com as senhoras
mais velhas.
Zk – Qual sua missão como Sacerdotisa do Candomblé. Quais os
trabalhos que a senhora dirige?
Marlene – Trabalho com cura. Na realidade meu trabalho é com
oráculo.
Zk – Como é que funciona?
Marlene – Você me dar o seu nome, data de nascimento,
endereço, nome de sua filiação (pai e mãe) e daí faço o trabalho. No oráculo
vou saber todo o seu problema sem você me dizer o que está passando e vou
transmitir pra você o que estou vendo
e você vai me confirmando as verdades que estou revelando pra você.
Zk – Qual o processo para uma mãe de santo chegar a
sacerdotisa?
Marlene – O processo foi que paguei todo meu trabalho em
Ubanda e depois tive que migrar pro Candomblé. Sou de Nação Gêje. Cheguei à
condição de Sacerdotisa porque paguei todas minhas obrigações. Foram cobertas
minhas obrigações de tempo no Candomblé na parte, de um ano, dois anos, três
anos, sete anos, quatorze anos e vinte e um anos quando encerra todo o ciclo. de
Mãe de Santo essas coisas. Migrei e sou uma iniciada em Ifá.
Zk – O que a levou a migrar para o Ifa?
Marlene – Ifa tem maior facilidade de globalização. É mais
fácil de ser adotado e tem iniciações mais simplificadas e esta lidando
diariamente com a questão da vida e do destino. Podemos dizer que ele é menos
rígido, religioso e introspectivo do que o Candomblé que para se participar tem
que se envolver de corpo e alma. Ifa assim tem tido facilidade para se
globalizar e os seus sacerdotes estão espalhando no mundo, sejam abrindo casas
como fazendo clientes. O Candomblé é o culto a orixá, mas acima de tudo
representa toda uma religião. Em Ifa pertenço a casa de um Babaifa Odamagué que é o Baba que cuida
do Oráculo. Eu sou a Sacerdotisa filha de Odanadana.
Zk – O trabalho de cura desenvolvido por vocês, é através de
concentração, oração ou banhos?
Marlene – Tem de várias espécies, depende de qual é o
problema da doença. Na minha casa tenho feito cura que o médico não conseguiu e
eu faço através da força do meu vodu de meu pai e de minha mãe; acontece cura
através das folhas, dos banhos, das comidas que são oferecidas.
Zk – A senhora falou em oferendas. Agora
com a construção das hidrelétricas não é mais possível fazer oferendas nas
cachoeiras. Onde vocês estão fazendo?
Marlene – Banho de rio. O rio pertence a nós porque é do
nosso sagrado. O rio pertence a Oxum. O que fizeram nas nossas cachoeira de
Santo Antônio, Teotônio e Jirau é um
aborto da natureza e do nosso sagrado, nos prejudica porque tudo isso é energia
profunda da natureza, energia que nunca deveria ter sido destruída. Nós os
Sacerdotes ficamos tolhidos de fazermos nossas oferendas na cachoeira por causa das hidrelétricas. É o progresso
que vem, trás benefício, mas, também trás as suas seqüelas.
Zk – E como vocês estão fazendo para cumprir as obrigações
que requerem oferendas?
Marlene – Nós estamos acostumados a suprir as necessidades.
Nós nos viramos pra fazer nossas oferendas. O progresso chega e tira nossos
direitos e ficamos sem condições de fazer nossas oferendas por causa do
monopólio do dinheiro.
Zk – Em pleno século 2,1 as religiões de matrizes africanas
ainda sofrem discriminação?
Marlene – Sofrem e muito. Eu pelo menos sofro diariamente,
mas, pra mim não interessa mais porque tenho orgulho. Podem me chamar de
macumbeira. Seria pior se me chamasse de bandida, traficante mas, sou uma
Sacerdotisa, podem chamar que tomo com um elogio,
Zk – Como é que posso chamar sua casa?
Marlene – Minha casa é um Kweâ Ro Vodu Adê.
Zk – As pessoas lhe procuram mais para fazer trabalhos para
o Bem ou para o Mau?
Marlene – A procura maior é para o equilíbrio, a saúde.
Acontece que para fazer o Mau eu não trabalho. Acredito que se Oromila nos trouxe
aqui para o benefício, nós não temos o direito de fazer Mal a ninguém.
Zk – Como sacerdotisa a senhora tem muitos filhos e filhas
de santo?
Marlene – Por ser Sacerdotisa acho, por incrível que pareça,
tenho poucos filhos em
Rondônia. Tenho mais filhos que vêm de Santa Catarina, Mato
Grosso, Rio Grande do Sul, Goiás, Brasília, São Paulo, mas, na minha terra
Rondônia poucos procuram. O Gêge é uma nação muito fechada, não tem abertura,
não moderniza por isso não tem como aglomerar muitos filhos,
Zk – Mas, existe a questão do canto, do batuque da dança que
muitos chamam de baiar?
Marlene – Tem seu canto, batuque as oferendas, mas, tudo
fechado. Temos o Runtó que é quem faz as oferendas e o toque que é o Alabê que
canta.
Zk – Canta-se pra que. Chamar as entidades?
Marlene – Tem o canto de chegada, um canto de saída tem o
canto de elevação. Por exemplo, pra saudar um Vodu. Minha voz não está muito
boa, mas é assim: (cantando): Jarrorô herrê, me titila ejarum rê, arrolam
arrolandiê. Que quer dizer: Ele começou criança, e foi crescendo,
crescendo e foi até a orum que é o céu, ele começou no aiê, que é a terra e cresceu, cresceu e foi a orum
no céu.
Zk – Se pessoas quiserem fazer uma consulta com a senhora,
vai lhe encontrar aonde?
Marlene – É só se dirigir a minha casa. O Centro foi
saqueado por evangélicos, mas, a gente deixa isso pra lá, porque é muita coisa
que teria que falar.
Zk – O endereço, por favor?
Marlene – Sacerdotisa Yakolecy – Solução para qualquer
situação. Rua Vanice Barros, 2701 – Conjunto Rio Jamari – Bairro Três Marias.
Telefones: 3226-4030 ou 9262-1732.
Zk – Me tire uma dúvida. Esse negócio de fazer a pessoa
sofrer através de espetadas ou outra coisa parecida, em um boneco – Vodu
acontece mesmo?
Marlene – Existe sim, mas, aquilo ali ninguém faz aqui em
Rondônia e em canto nenhum mais. As pessoas dizem muita coisa para amedrontar o
povo, mas, não é isso.
Zk – A senhora sabe que eu e meu amigo Bainha freqüentamos
os terreiros do Albertino e do Celso batendo tambor e naquele tempo se via
poucas pessoas influentes Baiado (dançando). Hoje a coisa mudou tem muita gente
boa freqüentando os terreiros e participando ativamente dos cultos, não é
verdade?
Marlene – Doutores da medicina, juízes, advogados,
intelectuais e outros tipos de profissionais. Acontece que naquele tempo essas
pessoas freqüentavam, mas era escondida agora não, teve uma abertura muito
grande, houve grande expansão a nosso favor, isso é verdade.
Zk – Existe uma entidade que congrega essas religiões?
Marlene – Eu sou representante da Fenarabe que é uma
entidade nacional que tem 22 anos de existência e a Conen que é a Coordenação
Nacional de Entidades Negras.
Zk – Marlene hoje é casada?
Marlene – Sou casada tenho meu esposo, quatro filhos todos
adultos e três netos o mais novo com sete anos.
Zk – A senhora também reza pra quebranto essas coisas?
Marlene – Eu tenho esse dom de fazer cura nas pessoas.
Através do meu Pai Omolu faço curas e também rezo. Já curei uma americana de
câncer do seio.
Zk – Estamos nos encontrando aqui no Rio de Janeiro na
Conferencia Rio + 20. O que o Povo dos Terreiros estão reivindicando?
Marlene – Reivindicações pelos nossos sagrados, pelo
respeito a natureza e o povo de terreiro
aos indígenas, às nossas origens. Também faço previsões viu, ainda não
falhou nenhuma.
Zk – Sendo assim vou fazer a pergunta que está coçando desde
o inicio dessa entrevista. Quem será o próximo prefeito de Porto Velho?
Marlene – O próximo prefeito do município de Porto
Velho vai ser uma caixinha de segredo.
Não vai ser nenhuma das pessoas que estão dizendo, já ganhei que estão na
mídia. O nome de quem será o prefeito ou prefeita de Porto Velho ainda não
deslanchou!
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