terça-feira, 31 de março de 2015

A brincadeira de Boi Bumbá em Porto Velho e a Revolução de 1964


Ao contrário do que muitos pensam, a brincadeira de Boi Bumbá em Porto Velho, jamais sofreu alguma censura durante o período da Ditadura Militar no Brasil (1964/1985).
Na realidade, os grupos de Bois Bumbás existentes à época, foram proibidos pelo Chefe de Polícia  de saírem de seus currais, em virtude das brigas e até morte que vinham acontecendo com freqüência durante as chamadas “Briga de Boi”.
Vale salientar que essa proibição aconteceu em meados da década de 1970 e não tinha nada a ver com Censura por parte dos Militares.
Já nos anos Dois Mil, postei na minha coluna Lenha na Fogueira publicada no Diário da Amazônia e em vários sites o seguinte:


..No tempo que televisão era só para rico, quando nem se sonhava com a Internet e principalmente com as chamadas redes sociais, nas festas juninas em Porto Velho, principalmente na véspera e dia de São João, as fogueiras e os rojões pipocavam pelos quatro cantos da cidade de Porto Velho.

Até meados da década de 1980, a brincadeira mais popular nas festas juninas era a dança do Boi Bumbá.

Os comerciantes e os empresários mais abastados contratavam grupos de bois bumbás para dançar em frente suas residências.

Naquele tempo, praticamente todas as casas de Porto Velho tinha quintal e ali se acendia a fogueira e convidava o boi bumbá para se apresentar.

Já nos arraiais dos clubes sociais como Ypiranga, Bancrévea, Guaporé, Danúbio Azul e Imperial, quem se apresentava, eram os grupos de quadrilhas, formados em sua maioria, com os sócios presentes à festa.

Na década de 1960 o proprietário do Serviço de Alto Falante “A Voz da Cidade” senhor Fuad Nagib em parceria com o radialista e sócio Humberto Amorim realizava na Avenida Sete de Setembro o Festival Folclórico com a participação apenas dos grupos de bois bumbas.

Os grandes rivais entre os bumbas era o Flor do Campo de Luiz Amaral e o Corre Campo do Galego. Apresentavam-se também os bois Garantido, Fortaleza, Pai do Campo, Brilhamante, Rei do Campo e Malhadinho.

Tinha uma tradição, todos os bois antes desse festival, se apresentavam em frente a casa do Governador (hoje Memorial Jorge Teixeira).

O amo do boi bumbá Flor do Campo Augusto Queixada certa vez cantou em frente a casa do governador os versos em ritmo de toada:

“Eu queria essa beleza, pra ser um homem educado! Eu queria dar um viva ao governador do estado”.
Quando o Brasil foi Tri Campeão do Mundo a toada foi:

“Brasil tri campeão do mundo, Brasil no futebol é o melhor, assim acontece em Rondônia, no festival boi Flor do Campo é o maior”.

Veja que ele usa o termo “estado”, mesmo sendo Rondônia ainda Território Federal.

O grande festival de dança de quadrilha acontecia nas quadras dos colégios.

O mais famoso arraial entre os colégios que naquele tempo eram chamados de “Grupo Escolar”, era o  do Grupo Escolar Barão do Solimões.

Em meados da década de 1970, a brincadeira de boi bumbá em virtude de muitas brigas entres integrantes de grupos rivais, foi proibida, ficando apenas o bumbá “Malhadinho” que ensaiava na rua Princesa Isabel com a Joaquim Nabuco no bairro Tucumanzal.

Foi justamente com a intenção de se resgatar a brincadeira de boi bumbá em Porto Velho que em 1982, a equipe de cultura da Secretaria de Cultura, Esporte e Turismo - SECET resolveu realizar na quadra do colégio Rio Branco a 1ª Mostra de Quadrilhas e Bois Bumbás do Estado de Rondônia...


Nossa intenção ao republicar essa Lenha na Fogueira, é mostrar, que a Brincadeira de Boi Bumbá em Porto Velho, não sofreu nenhum tipo de Censura durante o Regime Militar. Muito pelo contrário foi durante esse Regime que surgiu a Mostra de Quadrilhas e Bois Bumbás e o Arraial Flor do Maracujá com o total apoio do governo do estado de Rondônia que por sinal era o Coronel Jorge Teixeira de Oliveira.


quinta-feira, 26 de março de 2015

A BRINCADEIRA DE BOI BUMBÁ EM PORTO VELHO

A Brincadeira de Boi Bumbá em Porto Velho


O compositor e Amo do Boi Bumbá Nação Corre Campo Silvio Santos mostra, através do espetáculo“A Brincadeira de Boi Bumbá em Porto Velho” como o folguedo chegou a Rondônia em especial à capital Porto Velho.
O espetáculo segue o estilo “Contação de História”, com o Amo mostrando o porquê da existência da brincadeira, intercalando narração com o canto de toadas, de sua autoria em parceria com o compositor Silvinho. Assim se apresentam os principais personagens da brincadeira de Boi Bumbá como:

Nego Chico e Catirina, Rainha do Folclore, Cunhã Poranga, Porta Estandarte e Sinhazinha da Fazenda entre outros e é claro, a evolução do Boi Bumbá.
Sobre o Amo de Boi Silvio Santos – Silvio é Mestre (Griô) de Boi Bumbá reconhecido pelo MinC. Desde criança Silvio aprecia a brincadeira, pois morava nas proximidades do bairro Baixa da União local onde nasceu o Bumbá Corre Campo. Na década de 1980 resolveu ingressar em um grupo o “Tira Prosa” onde passou a integrar a “barreira de Amo”. Em 1994 foi para o bumbá Az de Ouro como Amo e compositor de toadas e em 1997, passou a brincar no Boi Bumbá Corre Campo onde permanece até os dias de hoje.


Silvio é o maior vencedor do Troféu “Galego” (Melhor Amo do Arraial Flor do Maracujá), assim como do troféu “Cabo Fumaça” (Melhor Toada inédita do Arraial Flor do Maracujá) são 15 troféus em cada item.
Boi Bumbá Corre Campo – O Corre Campo nasceu no dia 5 de maio de 1954 na Baixa da União criado pelo Nego Helio. Na década de 1960 passou a ser dirigido pelo Amo Galego.
A família de Antônio de Castro Alves assumiu sua direção no final de década de 1970 e o transformou no maior grupo de Boi Bumbá de Porto Velho.

O público lota as dependências do “Curral de dança” do Arraial Flor do Maracujá todos os anos, para assistir a apresentação do Corre Campo que é conhecido também como “O Gigante Sagrado da Amazônia Ocidental”.
Hoje o bumbá tem como presidente a advogada Maria José Brandão – Dona Branca (viúva de Antonio Castro Alves).


A Brincadeira de Boi Bumbá em Porto Velho


 De acordo com nossas pesquisas, a Brincadeira chegou a Porto Velho no ano de 1920, quando jovens da Vila de Santo Antônio publicaram no jornal O Alto Madeira, nota convidando a população para assistir a apresentação do Boi Bumbá “Sete Estrelas” na noite de São João daquele ano. Assim o Amo do Boi Corre Campo começa a contar a história da brincadeira em Porto Velho num espetáculo musical que com certeza, encantará a todos que o assistirem.

segunda-feira, 2 de março de 2015

HISTORIAS DO MENINO BARRIGUDO

Histórias do menino barrigudo (Saqueiro na Feira)

04/10/2010 - [06:30] - Política

Por Silvio Santos

Saqueieirooo! Saqueieirooo! Assim “Barrigudo” levava a vida na Feira Livre que existiu no local onde hoje funciona o Mercado Central, no quadrilátero formado pelas ruas Farquar, Euclides da Cunha, Henrique Dias e Travessa Renato Medeiros. O grito de saqueieirooo era praticado por todos os meninos que vendiam saco feito de folha de saco cimento na Feira Modelo, esse era o nome da Feira Livre inaugurada em Porto Velho em meado da década de 1950.

Barrigudo começou suas atividades como vendedor de saco, carregador de água para as banqueiras, vendedor de mingau e outras coisas, assim que sua mãe ficou viúva e para sustentar os filhos, colocou banca de venda de comida na Feira Livre que existia em frente ao Mercado Municipal (hoje Mercado Cultural) pelo lado do palácio do governo.
Quando o governo resolveu inaugurar oficialmente o palácio em 1954, a feira foi transferida para um galpão construído no espaço que ficava entre o Clube Internacional (Hoje Ferroviário) e o prédio da Usina que pertencia ao Serviço de Água, Luz e Força do Território Federal de Rondônia - SALFT (hoje é a sede da Ceron/Eletrobrás). A rua existente ali ficou conhecida como rua do Coqueiro hoje é a Euclides da Cunha.
A feira livre naquele local era provisória, pois a prefeitura estava construindo o local definitivo ao lado de uma dos casarões da Estrada de Ferro Madeira Mamoré que ficava nos fundos do recém inaugurado Prédio do Relógio.
Acontece que nesse ínterim, a mãe de Barrigudo, juntamente com outras pessoas, conseguiu licença junto à direção da Estrada de Ferro Madeira Mamoré e construiu uma casa bem em frente da Feira Modelo pela rua Farquar.
A Feira Modelo só funcionava de 5ª feira, ao meio dia de sábado. Quinta feira a tarde chegava o Trem da Feira que vinha com produtos dos agricultores que moravam ao longo da via férrea entre o KM 25 (Teotônio) até Porto Velho. Sexta feira era vez de chegar a Lancha do Beiradão que vinha com os produtos dos agricultores que moravam entre São Carlos e Porto Velho. “A gente pegava carreto para transportar cachos de banana, saco de carvão e outros produtos do trem ou da lancha para a Feira” conta Barrigudo, acontece que no percurso para feira, ele ia tirando banana da palma e deixando no chão, enquanto um comparsa previamente combinado, ia juntando. “Aquelas bananas a gente botava para amadurecer e vendia”. Muito “peralta” Barrigudo não deixava escapar nada. Sempre estava procurando confusão com os meninos que apareciam pela feira. Os comerciantes que tinha boxe sabendo que Barrigudo não enjeitava nenhuma parada, quando viam um menino estranho no pedaço, ofereciam Cinco Cruzeiros (Barão do Rio Branco) se o Barrigudo tivesse coragem de dar um tapa no intruso. Barrigudo não contava conversa, ia lá Pou! Voltava e recebia a grana.
Os quintais das casas daquela vila que ficava em frente à feira pela Farquar, quando era o tempo das praias, nos meses de agosto setembro, eram alugados aos “Condutores” da EFMM para servir de depósito de tartaruga e tracajá que vinha de Guajará Mirim para serem vendidos em Porto Velho. O condutor que alugava o quintal da casa do barrigudo era o Armando Holanda conhecido como “Periquito”. Barriguda durante a noite riscava um palito de fósforo perto do nariz da tartaruga que morria asfixiada. Na manhã seguinte, Periquito chegava e queria saber se alguma tartaruga havia morrido e Barrigudo ia direto naquela que ele havaí asfixiado na noite anterior e então Periquito ordenava que ele jogasse a “bicha” fora. No meio do mato Barrigudo abria o peito da tartaruga e retirava os ovos que eram vendidos na feira.
O menino cresceu, estudou se formou, aprendeu a arte da tipografia nas oficinas do jornal Alto Madeira foi trabalhar como radialista na Rádio Caiari, passou pelos jornais A Tribuna, onde se transformou em Zé Katraca, foi para O Guaporé, Estadão e há mais de vinte anos, é integrante da família Diário da Amazônia e continua Barrigudo!